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Perdi meu emprego. E agora?
por Você SA
Publicada em 31/7/2006

Na série de quatro artigos, Francisco Britto abordou vários assuntos relacionados ao momento que segue a demissão, os primeiros impactos do choque, as primeiras medidas de sobrevivência e, por fim, o momento da entrevista para um novo emprego.

Por Francisco Britto

A demissão:

Você sabia que cada brasileiro conhece pelo menos quatro brasileiros que estão desempregados. Preocupante?

Um bela manhã você esta indo para o escritório ouvindo no rádio uma das hilariantes CPI's deste ainda mais hilariante país e, quando chega ao escritório, percebe um clima diferente. Parece que há algo de estranho no ar. Você não sabe se é porque o porteiro está de óculos escuros, se é porque o ascensorista te olhou com cara de cachorro sem dono ou porque sua secretária deixou duas aspirinas junto ao copo de água. Mas que tem algo errado, isso tem. Não que todas essas pessoas já saibam. É que no fundo, no fundo, você esta começando a sentir que algo vai mudar e não é para melhor. Ninguém melhor que nosso próprio estômago nessas horas. Sabe aquela coisa de dizer que sabia que ia ser assaltado naquele dia.

Silêncio. Nenhum e-mail bate na sua máquina. O telefone não toca. Até que lá pelas 11horas - chefes adoram certos horários - você é chamado para debater um asunto de teu interesse. Aqueles poucos metros que isolam você da diretoria, naquele dia parecem quilômetros. Depois de entrar e ouvir os comentários do dia e falar um pouco de como vai sua família - os rituais satânicos sempre se repetem - o seu chefe te fala: nós não queríamos, mas não houve outro jeito. Nunca a terceira pessoa, símbolo da vida corporativa é tão útil como nessa hora: eu não despeço, nós despedimos. Explicações à parte, lembranças de seus atos heróicos, mas em minutos a verdade é uma só: você nem precisa voltar à tarde. Entende agora o porquê das 11 horas?

Pois bem, é aí que uma nova vida se inicia. Respire fundo, volte a tua mesa ou sala e comece a organizar sua saída com orgulho. Isso mesmo, orgulho.

Pense de quem e como você deve se despedir. Nada de mágoas usando frases do tipo 'graças a deus' ou 'já era à hora, eles não servem mesmo'. Esse comportamento 'festivo-depressivo' só servee engana a você. A torcida, por mais que te ame, sabe que você não acordou, saltou da cama, fez barba, se arrumou, enfrentou o trânsito e tudo mais só para ser demitido. Não seja ridículo.

Despeça-se das pessoas. Se ainda tiver acesso ao e-mail, use-o para despedidas gerais desejando sucesso a todos, colocando-se à disposição e nunca, mas nunca mesmo use o chavão - vou feliz para um novo desafio. Elegante e hipócrita sim, burro nunca. Vá pessoalmente a alguns. Não esconda seus sentimentos, mas não faça deles uma bandeira. E mais, se você nunca cumprimentou a mulher do café não o faça agora. Seja, até o final, você mesmo.

Saia e vá para casa. Tome um bom banho, relaxe e analise como contar aos amigos e familiares. Não esqueça de que esse pessoal conta com você e gosta de você.

Evite as amarguras. Desabafe, mas sem grandes exageros, pois os exageros só aumentam sua ira. Nos desabafos temos a tendência a aumentar a densidade da situação criando cenários, lembrando de fatos passados sem importância mas que, naquele momento, ganham uma enorme relevância.

Procure dormir e descansar. No outro dia, levante um pouco mais tarde e tire um dia sabático, voltado só para você. Bote na cabeça que ninguém é mais importante que você naquele dia. Saia para caminhar, almoce bem,vá fazer coisas que você gosta, desligue o celular, não fale de trabalho e nem com o pessoal do trabalho. Enfim, esfrie a cabeça. Não pense no assunto. É muito difícil, mas valerá a pena.

Nessas horas, uma enormidade de boas almas tenta ser legal, mas nem sempre você quer que alguém seja legal com você naquele momento. E nas armadilhas desses momentos cometemos grandes das nossas burradas pessoais e profissionais pois, afinal, somos uma coisa só.

Nos próximos dois artigos vamos tratar de temas que devem ser avaliados passadas 48 horas do sinistro. Vamos falar de planejamento financeiro, preparação de currículo, montagem e uso da rede de conhecimentos, entrevistas de emprego e até de como iniciar o novo futuro.

O dia seguinte:

É então chegada a hora das primeiras medidas práticas: avaliar a sobrevida financeira.

Seja realista, mas não dê início a um processo desnecessário de depressão, trocando filhos de escola, mandando a empregada embora (até para descarregar a raiva contida), ou mesmo adotando hábitos que você não tinha desde a época da faculdade, do tipo tomar um 'rabo de galo' ao invés do seu tradicional vinho pinot noir. Seja prático e entenda que apertar um pouco a cinta não fará mal a ninguém. Faça as contas e procure avaliar friamente sua situação. Calcule claramente quanto tempo você agüenta sem grandes prejuízos a sua qualidade de vida. Tente reduzir os gastos mensais em algo como 20%, tirando gordurinhas. Se o resultado da análise for, por exemplo, de um ano de tranqüilidade relativa, não seja tão otimista. Bote na cabeça que você tem -- no máximo -- seis meses para se arrumar. O aperto final pode trazer decisões desastrosas como a de ir trabalhar com aquele seu cunhado mais querido. Muitas empresas oferecem o serviço de recolocação (outplacement). Pense se é uma boa opção para você ou se o melhor mesmo seria receber sua parte em dinheiro. O serviço de recolocação é muito interessante e serve também como um amparo psicológico para os profissionais, mas não faz milagres. Se você optar por ele, no entanto, faça tudo que te pedirem.

Para começar, responda perguntas como 'o que você quer para sua vida agora...'ou ' me cite três coisa que você faz muito bem' . Elas podem soar cínicasnesse momento, mas não o são. Um balanço realista sobre quem somos e para onde podemos ir é válido. Além disso, é nesse instante que podemos decidir por levar à diante aquela veia empreendedora. Talvez, seja a hora de usar o que aprendeu no mundo corporativo para iniciar oumesmo se associar a um negócio.

Finanças à parte, vamos botar foco em dois itens de grande importância: o currículo e a rede de relacionamentos.

Muitos perguntam como se faz um currículo perfeito e a resposta é muito simples:é aquele que, de forma honesta e clara, apresenta quem somos e o que queremos.

Um bom currículo deve conter:

- os principais dados pessoais tais como nome, endereço, telefones, e-mail, data e local de nascimento, esportes e hobbies

- objetivo profissional

- formação acadêmica, demais cursos e idiomas

- carreira, evidenciando conquistas e realizações

- vida associativa e comunitária

- se quiser: referências pessoais e profissionais

A forma também deve ser clara e honesta. Já vi de tudo um pouco. Recebi currículo perfumado, coloridinho, pintado à mão, com fotos da infância...

A rede de relacionamentos é chave nesse momento. Nunca pense que aquele seu ex-colega de escola que já era chato e agora, ainda por cima, está gordo e careca, não pode ajudar. É como passear pela baixada fluminense. Nunca se sabe de onde vem o tiro. Não mesnospreze nada ou ninguém. Avalie como anda sua rede de relacionamentos. Procure quem são e onde estão, mas não se deprima com o resultado desse exercício. Veja como o começo do caminho para seu próximo emprego.

A rede de relacionamentos:

Em vários e-mails com contribuições muito interessantes que recebi dos leitores - e não foram poucos, obrigado! - havia em comum o aspecto da participação da família nesses difíceis momentos. De forma mais amena ou mais pesada, muitos abordavam o papel companheiro da família na fragilidade dessa situação. Entendemos família de forma bastante ampla, incluindo também aqueles amigos muito próximos, os que sabem de tudo um pouco. Aliás, tenho um primo que me cataloga de amigo. Ele diz que os amigos de verdade é que formam a 'verdadeira família', pois esses a gente escolhe e o mesmo não acontece na constituição das famílias de sangue. Radical, mas não deixa de um pouco estar certo: lembra daquele cunhado mala?

Na hora do aperto a recomendação para a família é a mesma: não crie 'stress' antes da hora. É importante que todos tenham consciência do fato e que reine a verdade no lar, porpem, sem todos aqueles detalhes sórdidos. Contar de verdade com a família e amigos é de grande importância para a mente e o coração.

A rede de relacionamentos contemplará também a grande família e o ciclo de amigos. Esses aliás, devem ser os primeiros a saber quais são nossos projetos, nossas idéias. Todos nós temos - de forma organizada ou não - uma rede de bons relacionamentos. Pode ser em cartões, agenda, palm, Outlook, tábuas sagradas, ou um mix disso tudo temperado à moda do usuário. Não tem problema. Não deixe ninguém de fora. Avalie pessoa a pessoa. Nunca se sabe quem poderá ser o agente da recolocação. Meu primeiro emprego veio por indicação de uma velha e querida tia que nem sabia o que eu fazia na vida. Confundia publicitário com propagandista a coitadinha, fazer o quê?O importante é organizarmos uma lista atualizada e completa de pessoas com as quais devemos falar e, a partir disso, eleger quais seriam as abordagens mais adequadas. Pelo amor de deus, não me venham com aqueles discursos batidos do tipo 'fechei mais um importante ciclo' ou 'eu estava mesmo em busca de um novo desafio'. Isso não cola e ainda por cima pode ser alvo de cabeças doentias que adoram propagar a miséria.

Seja objetivo: busco uma colocação profissional. Tenha coerência total com seu próprio currículo onde já deve constar - de forma clara - o que você pretende fazer. Nada de voltinhas. Quem gosta disso é motorista de ônibus de aeroporto. É bom também criar uma espécie de 'ranking' de contatos. Procure criar uma hierarquia lógica por tempo de relacionamento, grau de intimidade, de utilidade ou outros. Não importa o critério, mas tenha um. Feito isso, escolha as formas de abordagem mais adequadas: e-mail, telefonema, carta, visitas pessoais ou múltiplos. Mas nunca seja impertinente. Mantenha a linha. Nada mais chato e menos profissional de que ser abordado dezenas de vezes pelo mesmo fariseu com o mesmo assunto. Tá certo, todos entendem a sua ansiedade, mas não precisa demonstrá-la. Pare, respire fundo, conte até dez.

Em vários e-mails com contribuições muito interessantes que recebi dos leitores - e não foram poucos, obrigado! - havia em comum o aspecto da participação da família nesses difíceis momentos. De forma mais amena ou mais pesada, muitos abordavam o papel companheiro da família na fragilidade dessa situação. Entendemos família de forma bastante ampla, incluindo também aqueles amigos muito próximos, os que sabem de tudo um pouco. Aliás, tenho um primo que me cataloga de amigo. Ele diz que os amigos de verdade é que formam a 'verdadeira família', pois esses a gente escolhe e o mesmo não acontece na constituição das famílias de sangue. Radical, mas não deixa de um pouco estar certo: lembra daquele cunhado mala?

Na hora do aperto a recomendação para a família é a mesma: não crie 'stress' antes da hora. É importante que todos tenham consciência do fato e que reine a verdade no lar, porpem, sem todos aqueles detalhes sórdidos. Contar de verdade com a família e amigos é de grande importância para a mente e o coração.

A rede de relacionamentos contemplará também a grande família e o ciclo de amigos. Esses aliás, devem ser os primeiros a saber quais são nossos projetos, nossas idéias. Todos nós temos - de forma organizada ou não - uma rede de bons relacionamentos. Pode ser em cartões, agenda, palm, Outlook, tábuas sagradas, ou um mix disso tudo temperado à moda do usuário. Não tem problema. Não deixe ninguém de fora. Avalie pessoa a pessoa. Nunca se sabe quem poderá ser o agente da recolocação. Meu primeiro emprego veio por indicação de uma velha e querida tia que nem sabia o que eu fazia na vida. Confundia publicitário com propagandista a coitadinha, fazer o quê?O importante é organizarmos uma lista atualizada e completa de pessoas com as quais devemos falar e, a partir disso, eleger quais seriam as abordagens mais adequadas. Pelo amor de deus, não me venham com aqueles discursos batidos do tipo 'fechei mais um importante ciclo' ou 'eu estava mesmo em busca de um novo desafio'. Isso não cola e ainda por cima pode ser alvo de cabeças doentias que adoram propagar a miséria.

Seja objetivo: busco uma colocação profissional. Tenha coerência total com seu próprio currículo onde já deve constar - de forma clara - o que você pretende fazer. Nada de voltinhas. Quem gosta disso é motorista de ônibus de aeroporto. É bom também criar uma espécie de 'ranking' de contatos. Procure criar uma hierarquia lógica por tempo de relacionamento, grau de intimidade, de utilidade ou outros. Não importa o critério, mas tenha um. Feito isso, escolha as formas de abordagem mais adequadas: e-mail, telefonema, carta, visitas pessoais ou múltiplos. Mas nunca seja impertinente. Mantenha a linha. Nada mais chato e menos profissional de que ser abordado dezenas de vezes pelo mesmo fariseu com o mesmo assunto. Tá certo, todos entendem a sua ansiedade, mas não precisa demonstrá-la. Pare, respire fundo, conte até dez.

A entrevista de emprego:

Até aqui você fez tudo direito. Deu tudo de si, seguiu as regras, fez o currículo, ativou a rede de relacionamentos e preparou a roupinha para as entrevistas. Mas nada do telefone tocar. É ai que reside um grande perigo: depressão seguida de atos impensados e decisões precipitadas. Calma, tudo a seu tempo. Buscar uma recolocação é um processo árduo. Um dos nossos leitores me enviou um e-mail contando que, quando perdeu o emprego e iniciou sua fase de recolocação manteve aquecidos os mesmo hábitos de quando trabalhava. Acordava cedo, se barbeava e tomava banho, colocava uma boa roupa e ia para o computador de sua casa. Pegava o telefone e se punha a cumprir as tarefas do dia. Marcava almoços com pessoas de interesse, fazia visitas, agendava entrevistas. Resultado: 98 dias depois estava empregado. Processo, persistência e uma pitada de sorte formam uma boa receita de sucesso.

O nosso leitor tem também razão numa coisa: manter o ritmo. Isso é muito importante. Muitas pessoas assumem uma postura mista de ódio e revolta que no máximo lhes garante um ar de aposentados infelizes e de mal com o mundo. O próprio tom de voz ao telefone já denuncia. Fica uma coisa meio fim de noite, ressaca. Manter o astral é indispensável.

Uma coisa também importante é o kit entrevista. Isso mesmo. Prepare-se antes. Escolha as roupas e as deixe separadas e em ordem. Monte uma pasta com cópias de seu currículo e outros documentos importantes, como cartas de referência ou uma relação de pessoas que podem dar referências sobre você. Mas não exagere. Outro dia recebi um rapaz que segurava um álbum, desses de casamento ou 1ª comunhão, sei lá. No meio da entrevista, o gajo saca o álbum e começa a mostrar cópias e mais cópias de e-mails bajuladores, cartões de parabéns, fotos de festa das firmas antigas e tudo mais. Um verdadeiro show de horror corporativo.

Fique também atento à pontualidade. Calcule bem o tempo que gastará para chegar ao local, deixando sempre uma reserva técnica. Chegar muito cedo é fria, mas que uns 15 minutos antes são de bom tamanho, isso são!

Uma boa dica: antes de se fazer anunciado, pare e respire. Baixe a ansiedade. Retome a pulsação e o ritmo correto. Inicie o contato, seja uma entrevista ou teste, de forma confiante. Mas não confunda confiante com arrogante. Muitas pessoas que entrevistamos - pensando estarem se valorizando - passam do ponto e transmitem a nítida idéia de que estão fazendo o favor de aceitarem serem entrevistadas para uma oportunidade de trabalho. Isso é o final decretado logo de inicio.

Se as coisas caminharem bem e você for o escolhido, avalie bem a proposta. Não é crime pedir um tempo para pensar, algo como 24 ou 48 horas. Pergunte tudo. Não deixe dúvidas nem assuntos para resolver depois de começar.

Se a oportunidade vier poucos dias após você ter deixado a outra empresa, tire umas férias. Pelo menos uma semana fora para recuperar o pique e mudar o disco.

Bom, meus caros leitores, espero que esta série de quatro artigos tenha sido útil. Muitas das dicas e dos comentários aqui constantes também valem para aqueles que estão na busca de uma recolocação mesmo estando colocados.

Francisco Britto é colunista, autor de livros de marketing e negócios, palestrante e Sócio-diretor da Boyden Global Executive Search.

E-mail britto@boyden.com.br

 


Artigo fornecido pela revista VOCÊ S/A.
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