O poeta é importante figura do teatro. O alemão Bertolt Brecht escreveu, certa feita:
Eu peço com insistência
Não diga nunca - isso é natural
Sob o familiar,
Descubra o insólito
Sob o cotidiano, desvele o inexplicável
Que tudo o que é considerado habitual
Provoque inquietação
Na regra, descubra o abuso,
E sempre que o abuso for encontrado,
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Há duas correntes de pensamento relacionadas com o tema proposto pelo poema acima: o determinismo, segundo o qual “o homem é fruto do meio”, e o possibilismo, que diz que “o meio é fruto do homem”. Ambas têm razão, mas cuidado, o homem deve interferir no meio quando interessa criar um meio que melhor interfira no homem, jamais por outro motivo.
O poeta insiste que não precisamos afirmar que “isso é natural” quando estamos diante de uma situação que constrange a dignidade humana. No mundo social, considerar como “natural” a existência de crianças esmolando nos semáforos, de homens públicos corruptos, de propagandas enganosas, de serviços mal-prestados, é levar o determinismo ao extremo. Na rotina diária, trabalhar em um ambiente tenso e inamistoso e aceitar isso por ser “natural” ou por falta de “alternativa” é ser mais que determinista, é ser complacente com a infelicidade.
Nascemos para mudar o mundo, mas isso dá um trabalho... Mudar gasta energia e às vezes o estoque que temos é suficiente apenas para nos manter vivos. Mudar contraria a regra geral, que deseja a estabilidade. Todas as tentativas são, em princípio, combatidas. Quando se tornam irreversíveis, por relevantes, então encontram apoios, todos “de primeira hora”.
O possibilista é um inconformado, e deve ser; mas nem sempre o inconformado é um possibilista, quando se limita a queixar-se, e não parte para a ação necessária à mudança. Pensar e não agir é não pensar, se considerarmos o pensamento como precursor do movimento. A possibilidade é um grande patrimônio do homem, e patrimônio é algo a ser cuidado, sob pena de perder-se.
A respeito desse tema, que coloca o homem de frente com sua possibilidade de mudar, também se manifestou o poeta gaúcho Mário Quintana, e não deixou por menos:
Deus criou este mundo. O homem, todavia,
Entrou a desconfiar, cogitabundo
Decerto não gostou muito lá do que via
E foi logo inventando um outro mundo