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Sexto sentido
por Você SA
Publicada em 14/1/2008

Por Alessandra Pires

Jogo de emoções: tente descobrir o que está por trás de cada olhar e confira o resultado a seguir

Preste atenção nos vários pares de olhos acima. Você é capaz de dizer que emoção os donos deles estavam sentindo no momento em que cada foto foi tirada? Ninguém está sugerindo que acertar o jogo dos erros baseado num mosaico de pares de olhos pode definir sua carreira. Mas a brincadeira aqui ressalta algo cada vez mais valorizado no mundo do trabalho: a capacidade de entender como os outros se sentem sem a necessidade de palavras e interagir baseado nessa compreensão silenciosa. A empatia e a epigenética (ciência que estuda como processos genéticos se modificam graças a variações, emocionais ou não, no ambiente em que vivemos) são a nova área de interesse do psicólogo Daniel Goleman, de 60 anos, autor de Inteligência Emocional (Editora Objetiva), que já vendeu 300 milhões de exemplares. Depois de enveredar pelo universo emocional de cada indivíduo, Daniel agora estuda as interações entre eles. 'Há uma conexão entre os cérebros quando interagimos, e ela pode nos beneficiar ou trazer problemas', explica. A conexão a que Daniel se refere também pode ser chamada de empatia. Quando ela é 'desligada', como no caso de alguns serial killers, um exemplo extremo, a pessoa não consegue sentir o que seu interlocutor sente. E é isso o que os faz tão cruéis. Lembra-se daquele amigo conhecido pela habilidade de 'ler' um problema, uma novidade ou uma mentira em você, por mais que você tente disfarçar? Pois é essa sensibilidade refinada que Daniel explora em seu novo livro, Inteligência Social (Editora Campus/Elsevier). De sua casa, em Massachusetts, nos Estados Unidos, ele falou a VOCÊ S/A. O que é inteligência social?

É a parte interpessoal de um conceito que estudei anteriormente, a inteligência emocional. Ser socialmente inteligente significa possuir alto grau de empatia, de consciência social. E, além de sentir e compreender os sentimentos dos outros nas ocasiões de interação social, significa reagir de forma adequada a essa compreensão. Esse conjunto de habilidades não é crucial para conseguir um emprego: nesse caso, contam mais a escolaridade e a inteligência tradicional. Mas, uma vez que o emprego seja seu, essas habilidades contam pontos para a maneira como você se relaciona com os outros. E para a forma mais ou menos bem-sucedida como realizará seu trabalho.

 

Há alguma diferença com relação às habilidades necessárias para ser emocionalmente inteligente?

Quando publiquei o estudo sobre inteligência emocional (1995), enfoquei a consciência sobre si mesmo e a habilidade que cada um tem de gerenciar suas emoções, elementos cujos mecanismos cerebrais de base já haviam sido largamente estudados na neurologia. Na época, entretanto, havia pouco conhecimento científico sobre as estruturas cerebrais da inteligência social. Nos últimos anos, pesquisas na área de neurociência social permitiram conhecer melhor essa outra metade, cujos componentes são a empatia e as habilidades sociais. Aqui, a perspectiva é ampliada do indivíduo para o que acontece entre dois indivíduos (ou mais) quando interagem; do impacto de um terceiro sobre nós e do nosso sobre ele.

 

Você descreve três modelos disfuncionais quanto à habilidade de sentir empatia: o líder narcisista, o maquiavélico e o psicopata (veja quadro A Tríade Sombria). O ambiente corporativo propicia tais desvios?

Eu apenas quis ressaltar a existência desses tipos, que, nos escritórios, são particularmente nocivos, já que não conseguem sentir empatia. Esses profissionais só conseguem enxergar o que é bom para eles, individualmente. Alguém com tais características age da mesma maneira no escritório ou fora dele. No trabalho, em particular, o perigo está em ter um indivíduo desses como chefe  o nível de toxicidade do ambiente de trabalho fica mais alto. O clima entre uma equipe depende muito das pessoas que fazem parte dela. Mas a posição do chefe direto é crucial. Ele define as linhas gerais das relações e os subordinados tendem a copiar seu comportamento. O grau de empatia gerado por ele afeta mais do que o do presidente da empresa, a não ser que ele seja seu chefe direto, claro.

 

O livro mostra que as habilidades sociais vêm da infância. É impossível adquiri-las depois de adulto?

É perfeitamente possível desenvolver tais habilidades ao longo da vida, à medida que se é exposto a situações que exigem interação. Muitas delas podem ser elaboradas no ambiente de trabalho. Um agente de vendas, por exemplo, faz isso quando precisa 'entender' seu cliente de forma a atendê-lo melhor. A Johnson & Johnson tem estudado o assunto. Numa de suas pesquisas sobre desenvolvimento de competências de liderança, uma funcionária exemplificou exatamente este ponto. Ela se deu conta de que o processo de desenvolvimento de suas habilidades sociais começou na adolescência. Depois de uma mudança de cidade, por causa do trabalho dos pais, ela se viu sem amigos. Para não ficar sozinha, se tornou membro de um time de esportes na escola, mas logo percebeu que seu talento não estava em jogar. Estava em ensinar outras crianças a jogar. Esse processo se repetiu várias vezes na sua vida profissional. O que ela sinalizou no estudo é que, através de uma estratégia de erros e acertos, foi copiando modelos que observava em seus relacionamentos e construindo sua habilidade de interação, aumentando seus níveis de empatia. Minha opinião é de que as pessoas podem e devem ser treinadas para melhorar suas habilidades de inteligência social. Provavelmente tais programas não serão chamados 'treinamento em inteligência social'. Mas os programas que, por exemplo, desenvolvem líderes ou melhoram o trabalho em equipe estão, na verdade, fazendo isso.

 

Expressar suas emoções de forma livre, em especial no ambiente de trabalho, não é arriscado?

A expressão apropriada de emoções depende das normas sociais implícitas de um grupo. Na maioria dos ambientes de trabalho, por exemplo, é pouco apropriado chorar, a não ser por um motivo extremo. O nível de reprovação é maior ainda para homens que choram. Outra emoção contraditória no trabalho é a raiva. No ambiente corporativo das empresas americanas, a expressão de raiva é mais ou menos aceita, desde que você seja um líder ou tenha um cargo sênior. Normas implícitas variam. E, quando não é possível mudá-las, não há o que fazer senão respeitá-las.

 

Então, exercer inteligência social trata-se de restringir a expressão de sentimentos?Há dois processos aí. Inteligência emocional se refere ao que acontece dentro de cada um. E inteligência social expande a questão para o que acontece numa relação entre, pelo menos, dois indivíduos. No que diz respeito a controlar nossas emoções, estamos falando de algo que acontece dentro de cada um. Isso se traduz em, de um lado, não permitir que sensações negativas ou estressantes se transformem em obstáculos para a realização de qualquer de nossos propósitos. Por outro lado, significa canalizar sentimentos positivos para que tenhamos mais energia, mais motivação para fazer o que queremos. Agora, quando tratamos de expressar emoções, então, nos referimos à inteligência social, aquilo que acontece entre indivíduos. As emoções negativas ou positivas que sentimos afetam o outro também.

 

Se muitos comportamentos disfuncionais têm origem no cérebro, podemos culpar os genes por nossa falta de sensibilidade?

Não, a não ser que haja algum dano ou deficiência cerebral, como acontece com os autistas. Como expliquei, as habilidades sociais são passíveis de serem aprendidas. Eu uso o termo 'autismo social' para me referir a pessoas que preferem focar exclusivamente em si. Há profissões em que esse tipo de indivíduo pode funcionar numa certa medida: em funções muito especializadas, em que sempre há quem passe dias e dias trabalhando sozinho. Mas, até nesses casos, se for alguém que trabalha numa equipe, a habilidade de sentir empatia será necessária.

 

Como as interações entre os indivíduos afetam a nossa saúde física?

O cérebro social liga um ser humano a outro de forma fisiológica. Essa relação pode afetar nossos processos biológicos tanto quanto os psicológicos. A noção de solidão (não o número de pessoas que se conhecem, mas o tipo de relação que se tem com elas) está diretamente relacionada com a saúde. As funções imunológica e cardiovascular tendem a piorar quanto mais solitário se é. O cérebro está programado para detectar rejeição social desde a pré-história, quando fazer parte de um bando era essencial para sobreviver.

1. Pelé, chorando, em entrevista durante visita ao filho na prisão

 

2. George W. Bush, presidente dos EUA, tenso, durante pronunciamento sobre os atentados de 11 de setembro

 

3. Fernanda Montenegro, radiante, durante o 8o Prêmio Contigo, que homenageou seu trabalho como atriz

 

4. Felipe Massa, só alegria, comemora vitória no GP do Brasil de Fórmula 1 em 2006 

 

5. Ronaldo, sofrendo, ao cair no jogo contra a França na Copa do Mundo de 2006 6. Reese Whiterspoon, feliz da vida, recebendo o Oscar de Melhor Atriz este ano

 

7. Danielle Winits, em estado de graça, ao se casar com Cássio Reis

 

 

A triade sombria

 

Ambientes que glorificam modelos ambiciosos podem incentivar o desenvolvimento de profissionais incapazes de sentir empatia. Daniel Goleman divide-os em três tipos:

 

Narcisista É valioso nas empresas se não passar para o nível patológico, quando espera ouvir apenas informações que confirmem sua grandeza. É pouco empático, altamente competitivo e pronto a explorar pessoas ao seu redor para glorificar a si mesmo. Floresce quando o desempenho sob estresse é importante.

 

 

Maquiavélico Costuma ter empatia restrita: só entende no outro aquilo que lhe pode ser útil. É socialmente muito sagaz: realista a respeito de si mesmo e dos outros, não faz julgamento moral, é calculista e arrogante. Seu comportamento mina a cooperação. Funciona bem, até certo nível, em áreas que exigem capacidade de negociação, diplomacia e política.

 

 

Psicopata É a versão extrema do maquiavélico. Não tem empatia e é incapaz de reconhecer qualquer emoção nos outros. Dificilmente inibe seus impulsos, já que não sente ansiedade ou medo e fica calmo mesmo em situações de muito estresse.

São, em geral, 'bem-sucedidos' no mundo ilegal e do crime.

 

Fotos: 1. Odival Reis/AG. O GLOBO, 2. Win McNamee/Reuters/LatinStock, 3. Renata Xavier, 4. Sergio Moraes/Reuters/LatinStock, 5.Jahannes Simon/AFP , 6. Timothy A. Clary/AFP, 7. Rogério Domingues


Artigo fornecido pela revista VOCÊ S/A.
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