Dr. Who é a série de TV mais importante da qual você nunca ouviu falar. Pouco importa o que eu diga, uma série admirada por George Lucas, Steven Spielberg, a rainha da Inglaterra e alguns dos maiores cientistas do mundo não deveriam precisar da minha opinião (parece muito elitista para seu gosto? Há quem diga que Mike Tyson, Johnny Depp, Matt Groening e Bob Dylan também estejam entre os fãs da série).

A série que é a mais longa da história e começou em 1963, conta a história de um simpático doutor que viaja pelo tempo e espaço. Não adianta você achar que o tempo é algo linear com ações e reações claras. Na verdade, logo aprendemos que é mais como uma bola de geleia. Os acontecimentos nem sempre andam na linha que esperamos, do modo que esperamos.

E aqui vemos um dos motivos da série ter tantos fãs. Quando você acompanha um viajante do tempo, há coisas que já aconteceram, outras que vão acontecer e outras que já aconteceram a alguns personagens e ainda não com outros. O que fazer, por exemplo, quando você tem uma esposa que sabe mais do seu futuro do que você mesmo, porque, aliás, é de lá que ela veio?

Apesar da confusão, o futuro nunca está 100% determinado. O passado já aconteceu, o presente está acontecendo, mas o futuro é uma porta aberta. Na hora em que o futuro acontece, aquela porta se fecha para sempre, passa a fazer parte do seu passado e tudo que podemos fazer é lidar com aquilo e seguir em frente.

Enquanto você não encontra seu futuro, sempre há possibilidades e opções. Depois, só há memórias…

Na série, os personagens encontraram um modo bastante inteligente de lidar com o problema. Spoilers! A esposa do doutor chega a andar com um diário recheado de spoilers, para saber o que pode e o que não pode revelar sobre o futuro. Uma vez que você sabe seu futuro, não pode fazer mais nada a respeito. Melhor, então, adiar esse momento o máximo possível. Deixar spoilers serem spoilers e lidar com o presente.

No mundo real, volta e meia nos pegamos ansiosos com o futuro. Planejamos, sonhamos, nos irritamos por não sabermos o que vai acontecer amanhã. Nos preparamos e de vez em quando ficamos obcecados por um futuro que está sempre a um passo de nós. Uma pequena distância de nosso alcance, a uma página de ser aberto.

Nos esquecemos de que, na vida, não é o que já está escrito que surpreende, são aquelas situações fora do nosso campo de visão, que vêm sabe-se lá de onde, e tornam nossa experiência um tanto mais emocionante. É dessas experiências, aliás, que sairão alguns dos momentos mais marcantes de nossas vidas.

Quando somos crianças, gostamos de brincar com o famoso “O que você quer ser quando crescer”. Achamos que basta planejar nos mínimos detalhes e poderemos fazer tudo o que bem entendermos. Quando somos adultos, aprendemos que nem todo o planejamento do mundo impede as surpresas e imprevistos que nos pegam pelo caminho. Quando somos adultos, aprendemos que nem todo mundo vai ser astronauta, mas aquela paixão que te pega desprevenido também te faz viajar longe.

São esses momentos, uma promoção inesperada, um problema especialmente difícil, uma situação em que as pessoas se uniram à sua volta, um amigo que ganhamos quando menos esperamos que definem muito do que chamamos de nossa vida, e se pensarmos bem não trocamos esses momentos por nada.

Spoilers, querido leitor. Cuidado com eles. Não há por que procurar o futuro antes da hora.

 

Por Fábio Zugman* / Fonte: Administradores.com

Fábio Zugman é professor universitário, consultor e palestrante. É autor dos livros Empreendedores esquecidos (Elsevier, 2011); Administração para profissionais liberais (Elsevier, 2005); Governo eletrônico: saiba tudo sobre essa revolução (Livro pronto, 2006); O mito da criatividade (Elsevier, 2008); e coautor de Dicionário de termos de estratégia empresarial (Atlas, 2009) e Criatividade sem segredos (Atlas, 2010).