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Trabalhar pra quê?
por Você SA
Publicada em 30/4/2007

Por Márcia Rocha

 

Faz 12 anos que a psicóloga canadense Estelle Morin, da Universidade de Montreal, estuda o sentido do trabalho. Nesse período, ela detectou uma mudança dramática no coração das empresas. 'As pessoas estão entrando em colapso porque não vêem significado no que fazem', diz Estelle. Por quê? 'A crise ficou mais evidente quando reengenharia (mudança de processos) e downsizing (redução de pessoal) começaram a fazer parte do universo corporativo', afirma. 

 

  

Quem perdeu o emprego foi obrigado, talvez pela primeira vez na vida, a rever sua relação com o trabalho; os que ficaram passaram a questionar se o sacrifício valia a pena. A década de 90 marcou o fim da lealdade à empresa em troca da segurança do emprego. Hoje, as pessoas querem mais que isso - e, quando não encontram, sofrem.

 

As pesquisas de Estelle mostraram que houve um aumento considerável de faltas por causa de doenças mentais no Canadá. (Ela fará um estudo semelhante no Brasil em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Também falará sobre o assunto no 10o Congresso Mundial de Recursos Humanos, que acontecerá este mês, no Rio de Janeiro.) Em 2001, as companhias de seguro de seu país gastaram 20 bilhões de dólares canadenses por causa de absenteísmo. Tudo porque as pessoas não encontram no trabalho fatores que, segundo Estelle, levam à realização:

 

1. Proposta - Trabalho tem de fazer sentido.

 

2. Ética - Sua carreira precisa estar alinhada com seus valores. Os da empresa também devem coincidir com o que você acredita.

 

3. Autonomia - Liberdade de ação é diretamente proporcional ao prazer.

 

4. Reconhecimento - Sim, as pessoas esperam ser notadas pelo que fazem.

 

5. Relacionamento - Ter uma boa convivência no trabalho é fundamental.

 

6. Prazer - Você precisa gostar do que faz.

 

No Brasil, estudo feito em 2001 com 626 executivos de 400 empresas mostrou resultados que coincidem com os levantados por Estelle. A insatisfação no trabalho é mencionada por 74,5% dos entrevistados. O mau relacionamento com a chefia e o excesso de tarefas foram citados como geradores de tensão. A maior parte dos entrevistados trabalha cerca de 12 horas por dia, quatro além do que a lei determina. A autora da pesquisa é Betânia Tanure, professora da Fundação Dom Cabral, em Minas Gerais, e Ph.D. em administração de empresas. Além disso, 68% dos profissionais que ela ouviu disseram trabalhar regularmente nos fins de semana.

 

 

Se eu pudesse, largava tudo

 

Para a maioria das pessoas o sentido do próprio trabalho ainda é uma incógnita. O que é um contra-senso se você pensar que o batente ocupa de 65% a 70% do tempo que passamos acordados. Para quem dorme oito horas, isto representa mais de dez horas dedicadas ao trabalho. Imagine o impacto disso se você ainda está a 25 anos da aposentadoria. 'Se você passa 70% do tempo acordado trabalhando, e aborrecido, como vai ser feliz nos outros 30%?', questiona o consultor Luiz Carlos Queirós Cabrera, da PMC Amrop Hever. Sem falar que, com esse grau de descontentamento, trabalhar vai consumir mais energia do que o normal.

 

Por isso, frases do tipo 'se eu pudesse, largaria tudo' são ditas com certa freqüência. Este sentimento, que indica falta de prazer na carreira, é geral e se intensificou nos últimos dez anos. O progresso tecnológico, por exemplo, tornou o mundo mais acelerado. 'Essa necessidade de ser veloz aumentou a competitividade', diz Mário Sérgio Cortella, filósofo e professor titular do departamento de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O adensamento populacional urbano, por sua vez, nos faz demorar mais tempo para chegar ao local de trabalho.

 

 

A ética do prazer

 

Para algumas pessoas, trabalho e prazer não se misturam (veja quadro 'Conflito de Gerações'). 'Os pais que hoje têm filhos de 30 e poucos anos associavam a carreira ao dever', diz Vicky Bloch, presidente para a América Latina da consultoria de carreira DBM. Essa noção de dever contribui para que as pessoas encarem o trabalho como obrigação. E aí falta dinheiro e sobra infelicidade.

 

Felizmente, existe uma geração de pessoas que se preocupa com o próprio prazer. 'Elas não querem fazer como os pais, que viveram para trabalhar. Desejam encontrar uma atividade profissional que lhes traga realização', diz Vicky. Tanto que qualidade de vida é assunto corrente na literatura especializada. O aparecimento da VOCÊ S/A, por exemplo, faz parte deste contexto. O Guia EXAME - As Melhores Empresas para Você Trabalhar, que este ano chega à 8a edição, é outro reflexo disto. A pesquisa verifica o grau de satisfação de funcionários de empresas de todo o Brasil com as organizações em que trabalham. São avaliados itens como respeito aos colaboradores, credibilidade da companhia e ambiente. Na edição de 2003, quatro em cada dez dos 90 000 funcionários pesquisados disseram que qualidade de vida é o principal fator para continuar no emprego. Os outros 60% se dividiram entre quesitos como remuneração e benefícios, desenvolvimento profissional e estabilidade.

 

Retrocedendo no tempo, é possível compreender essa relação esquizofrênica entre vida e trabalho. Na geração dos nossos pais, tudo o que um profissional desejava era cumprir bem seu dever para manter-se empregado, mesmo que isso significasse fazer uma atividade totalmente desinteressante. O sentido do trabalho era coletivo, pois o conceito do que era ser um bom profissional era praticamente o mesmo para todos: chegar no horário, obedecer às normas, respeitar o chefe etc. Hoje, não. Quando as empresas enxugaram seus quadros, os que ficaram começaram a questionar seus valores. Sem falar na angústia dos que se viram, de uma hora para outra, no olho da rua. Atualmente, o conceito de trabalho tem a ver com realização. Sem isso, não há como suportar a pressão, o excesso de atividades e a competitividade do mundo globalizado - fatores que, ao que tudo indica, não devem se alterar nos próximos anos. O sentido do trabalho deixou de ser coletivo e passou para a esfera individual. Por isso, é preciso estruturar um projeto de vida, do qual a carreira faça parte. Não é possível dissociar o lado pessoal do profissional. Assim como não dá mais para separar trabalho e prazer.

 

 

Agora é com você

 

Do ponto de vista filosófico, as pessoas andam fazendo confusão entre fundamental e essencial. Fundamental tem a ver com base, com sustentação - é o que serve de apoio para o essencial. 'Nenhum trabalho é essencial. Ele é apenas um meio para que se consiga prazer, alegria etc. - estes, sim, essenciais', afirma Cortella. Quando você encara o trabalho como essencial, surgem impasses como a falta de equilíbrio entre a carreira e a família (leia a reportagem Entre 2 Amores, na página 66 desta edição). Vêm, também, problemas como abuso de drogas, alcoolismo e depressão, sintomas claros de ausência de prazer no trabalho, como você vê na reportagem Efeito Colateral, na página 72.

 

Depois de ler tudo isto, não deu vontade de pensar no que você deseja para a sua vida? Então, pegue uma folha de papel. Divida-a em quatro colunas: sonho, auto-análise, onde e como. Tudo o que você escrever em cada uma tem de casar com o que está anotado nas outras. 'Não adianta desejar fazer ou ser algo se você não se preparar para isso', diz Cabrera. Já que não é possível mudar o mundo, a única saída é começar a encarar os fatos de outra maneira. Como dizia o escritor e médico francês François Rabelais, que viveu no século 16: 'Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam'.

 

 

Pense no significado

 

'Quando eu tinha 22 anos e ganhava 20 000 dólares por ano, pensava em como seria feliz se chegasse aos 40 com uma renda de 40 000 dólares anuais. O que eu não sabia na época

era como estava me limitando. Acredito que cada um de nós tem um chamado pessoal que é único. O melhor caminho para o sucesso é descobrir o que você ama, trabalhar duro, oferecer seus serviços aos outros e deixar que o Universo guie você. A chave para realizar um sonho é focar em seu significado - e não no sucesso. Assim, tudo fará sentido para você.'

 

Oprah Winfrey, 50 anos, é empresária e uma das apresentadoras de TV mais famosas dos Estados Unidos. Tem uma fortuna estimada em 210 milhões de dólares e, neste ano, foi a terceira colocada da lista das 100 personalidades mais influentes do mundo, publicada pela revista Fortune. O trecho acima foi escrito por ela na revista The Oprah Magazine.

 

 

Tempos mais que modernos

 

Esta cena é de um clássico do cinema: Tempos Modernos, estrelado por Charles Chaplin, em 1936. Nele, Carlitos, o personagem de Chaplin, faz o papel de um operário de fábrica cuja função é apertar parafusos. O filme, uma crítica à massificação do proletariado e à desumanização imposta pelas máquinas, chama a atenção para outra questão:

a da alienação do trabalho. 'O trabalho é exclusivo dos seres humanos, porque pressupõe intenção, consciência. Senão, torna-se ação ou ação transformadora, algo que pode ser feito por máquinas ou animais', diz o consultor Mário Sérgio Cortella, filósofo e professor titular do departamento de teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O que se vê, hoje, é quase uma volta ao que está no filme. 'O trabalho está automatizado e as pessoas não se reconhecem mais no que fazem', diz Cortella.

 

 

Descubra se faz sentido

 

Faça um traço vertical dividindo uma folha de papel ao meio.

Do lado direito, escreva 'razões'; no outro, coloque 'senões'. Relacione todos os 'por causa de', até mesmo os que parecem não ter nada a ver com a carreira em si, como, por exemplo, conversar com pessoas interessantes.

Na coluna da esquerda, liste os 'apesar de': apesar da pressão, de trabalhar muito, de viver estressado etc. Compare as duas listas. Ter mais senões do que razões indica que algo não vai bem na carreira.

 

 

Conflito de gerações

 

Como as pessoas lidam com a carreira:

 

Baby boomers - Para essa geração, que nasceu de 1946 a 1964, a empresa vem em primeiro lugar e a realização profissional está atrelada a empregos duradouros. As pessoas trabalham em equipe, acreditam no poder da hierarquia e seguem à risca as políticas corporativas.

 

Geração X - Pessoas que vieram ao mundo de 1965 a 1980. Essa geração testemunhou na família o impacto de perder o emprego no qual se planejou ficar a vida inteira. Elas detestam o estilo 'viver para trabalhar' e valorizam a vida pessoal.

 

Geração Y - Jovens nascidos de 1981 a 1995. Cresceram na época da globalização, influenciados pelos yuppies. Trabalham individualmente, com foco nos resultados. Processam informações rapidamente, são flexíveis e acostumados a fazer escolhas.

 

Fonte: material que Mario Grieco, presidente da Bristol-Myers Squibb, usa em suas palestras


Artigo fornecido pela revista VOCÊ S/A.
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