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Profissional do bem
por Você SA
Publicada em 10/3/2008

Por Daniela Diniz

 

Procura-se executivo com boa formação, experiência em planejamento estratégico, parcerias, captação de recursos e visão sistêmica. Esse é o perfil do novo profissional do Terceiro Setor. Muito além do técnico, do especialista ou do aposentado que busca uma segunda carreira, a área vem de fato se profissionalizando. 

  

 “De uns dois anos para cá, o Terceiro Setor vem necessitando de uma organização”, diz Denys Monteiro, sócio da Fesa Global Recruiters, empresa que recruta executivos em São Paulo. “Sai o perfil do poeta e entra o do executivo mesmo, acostumado a liderar projetos.”

 

O engenheiro paulista David Saad, de 34 anos, diretor executivo da Fundação Victor Civita, entidade voltada para o aperfeiçoamento do professor brasileiro, pertencente ao Grupo Abril (que publica VOCÊ S/A), é um exemplo desse movimento de profissionalização. Formado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, trabalhou sete anos na consultoria Accenture, foi gerente na Promon e diretor no Expand Group.Além de ter a experiência em gestão de negócios, David nutria o desejo de trabalhar numa área nova.“Desde a época da Promon, eu já comecei a me interessar pelo trabalho no Terceiro Setor”, diz David. “Você passa a buscar um significado maior para aquilo que faz no dia-a-dia.”

 

Há dois anos na Fundação, David diz usar praticamente toda sua experiência do mundo corporativo tradicional na hora de avaliar e coordenar projetos, traçar alianças e medir o retorno das ações da instituição. “Há patrocinadores envolvidos no negócio que, assim como os acionistas do mundo privado, querem ver o retorno dos projetos”, explica. “À medida que o negócio se estrutura, ele deixa de ser assistencialista e passa a precisar não só dos especialistas, mas de administradores gerais.” Isso envolve reuniões, planejamento estratégico, análise de viabilidade e retorno do investimento.

 

Mais do que vocação

Sim, a linguagem do Terceiro Setor passou a ser essa. Esqueça aquela história de fazer o bem por fazer o bem. Por isso mesmo, David alerta: não se trabalha menos. Aliás, ter uma carga menor de trabalho é um dos mitos que envolve esse mundo.O outro é achar que basta sentir uma leve vocação para fazer o bem para aceitar um possível convite. Não é por aí. Ao migrar para essa área, você pode ter de lidar com muitos aspectos e situações que não condizem com seu perfil, tais como:

 

1) Públicos muito diferentes do que está acostumado a tratar — de crianças pobres no interior de Sergipe a comunidades indígenas do Norte.

2) Seu salário pode diminuir.

3) Sua carreira pode ser um pouco mais lenta.

4) Você vai trabalhar muito.

Por isso, antes de migrar definitivamente para o Terceiro Setor, o administrador de empresas paulista Lárcio Benedetti, de 37 anos, gerente de desenvolvimento cultural do Instituto Votorantim, pesou muito a decisão. Ele deixou para trás duas gigantes multinacionais a Accenture e a Colgate Palmolive para assumir (com um salário menor) a gerência de planejamento de uma agência de comunicação especializada em patrocínio empresarial, que na época tinha apenas oito funcionários. Estava ainda no mundo privado, mas já começava a sentir como seria trabalhar do outro lado. E tomou gostou pela coisa.

 

Ao trabalhar para o Grupo Votorantim há um ano, Lárcio acabou recebendo o convite da empresa para tocar a gerência do instituto. Ele coordena todos os projetos que o grupo apóia da fase de análise até a pós-implementação. A mudança, dessa vez, não implicou uma redução salarial e conta até com um plano de carreira. “As fundações e institutos que são ligados às empresas privadas vêm oferecendo boas oportunidades por contar com uma política organizada”, afirma Renata Fillippi Lindquist, sócia-diretora da Mariaca/Intersearch, unidade responsável por recrutamento de executivos, em São Paulo.

 

Aposte nas fundações

Há realmente uma oferta interessante de trabalho nesses braços das empresas privadas que trabalham no Terceiro Setor. Muitos deles já têm algumas políticas das empresas-mãe, como a gestão de recursos humanos e toda a infra-estrutura de trabalho. Isso faz com que o poder de atração dessa ala do Terceiro Setor seja maior aos olhos do executivo. É assim na Fundação Victor Civita e no Instituto Votorantim. Esses “braços” contam também com uma vantagem um banco de talentos à disposição, que está no seu próprio mundo privado.

 

Foi dessa forma que a mineira Renata Pereira, de 36 anos, responsável por captação de recursos da Care Brasil, uma das cinco maiores ONGs do mundo, voltada ao combate à pobreza, foi parar no Terceiro Setor. Renata trabalhou por mais de cinco anos no BankBoston. Era da equipe que atuava com o então presidente do banco Henrique Meirelles, atual presidente do Banco Central. Depois dessa experiência, ela começou a passar por aquela fase de pensar no real sentido do seu trabalho.

 

Não ficou só no pensamento. “Entrei em contato com alguns projetos e comecei a sentir necessidade de usar a minha experiência para algo maior.” Ao manifestar suas intenções no banco, ela migrou primeiramente para o próprio Instituto BankBoston. Ali, ficou apenas seis meses até ser fisgada pela Care, que já teve como principal executiva no Brasil a paulista Vânia Ferro, ex-presidente da 3COM. Hoje,Renata usa toda a sua experiência de “articuladora de alianças” em prol dos projetos da ONG.E engrossa as estatísticas dos executivos que andam construindo uma carreira do bem.

 


Artigo fornecido pela revista VOCÊ S/A.
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