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  Data: 3/12/2002 URL: Veja a matéria no site de origem
  Fonte: Jornal Valor (Online) PrintScreen: Veja o printscreen da matéria original
Catho é acusada de roubar currículos

'Houve uma infelicidade dos jovens ao chamarem o sofftware de 'rouba.phtml'. Mas isso foi apenas uma infantilidade. Também não se 'rouba' um beijo? Os atos praticados pela Catho foram legítimos'. É assim que o presidente do grupo Catho, Thomas Case, defende-se, em entrevista ao Valor, da acusação de ter 'roubado' mais de 150 mil currículos do site do concorrente Curriculum.

A Catho, especializada em recrutamento e seleção de profissionais e serviços de recursos humanos, uma das maiores do país nesse mercado, está sendo acusada de violação de direito autoral, concorrência desleal e prática de ato ilícito. A notícia veio à tona no último fim de semana, depois de uma reportagem publicada pela revista 'Isto É Dinheiro' em que foram reveladas algumas conclusões de um laudo judicial preparado pelos peritos Giuliano Giova e Ricardo Theil, entregues ao juiz Luís Mário Galbetti.

O processo contra a Catho está em andamento desde abril, mas o laudo, de cerca de cinco mil páginas, foi concluído apenas no último dia 5 de novembro. Além de comprovar a invasão no banco de dados da Curriculum, o laudo trouxe outros nomes de empresas que teriam seus bancos acessados por funcionários da Catho, entre elas Manager, Gelre, Empregos, Curriex, OESP e Embratel.

Com um mandado de busca e apreensão, os peritos recolheram material de cerca de 30 computadores, inclusive trocas de e-mails e ICQs de funcionários da Catho Online, e analisaram esse material por quase oito meses. Entre outras coisas, descobriram o uso de um software, criado pela Catho, batizado pelos funcionários de 'rouba.phtml'. Esse software foi utilizado para captar currículos e endereços eletrônicos de pessoas que se cadastraram nos sites de emprego em busca de uma recolocação profissional.

Esse software, diz o laudo, possui uma forma de acesso diferente - é mais rápido - daqueles que o usuário comum utilizaria para consultar e visualizar currículos no site da Curriculum. No código fonte do programa está escrito textualmente: '//Script para roubar a Curriculum.com.br.' O relatório cita também o pagamento de bônus aos funcionários que captam o maior número de e-mails em sites de outras empresas.

Thomas Case, presidente da Catho, confirma que é uma prática comum na empresa entrar em banco de dados de concorrentes para ampliar seus cadastros, mas diz que a sua atitude é 'perfeitamente legal'. 'A Catho nunca entrou em um banco de dados que não fosse aberto', diz Case, referindo-se inclusive ao uso dos bancos de dados da Embratel e da OESP.

'A Curriculum não tem direito autoral sobre os dados, eles não criaram nada. Nós pagamos para entrar no site deles e usamos os dados. Não 'hackeamos' nada', defende-se o consultor. Case conta que utiliza os endereços eletrônicos e currículos 'roubados' para enviar correspondência, principalmente o seu jornal eletrônico 'Carreira & Sucesso.'

O acesso ao banco de dados da Curriculum foi feito em nome da empresa 2Minds4Art, de propriedade de Adriano Meirinho, prestador de serviços para o Catho Online. Ao perceber que o número de acessos dessa empresa era fora do comum - ela pesquisou mais de 100 mil currículos em uma semana, enquanto o normal é que uma empresa veja de 500 a 1000 -, Marcelo Abrileri, sócio da Curriculum, entrou em contato com a 2Minds4Art. 'Eles afirmaram que não poderiam nos dizer qual era esse processo de recrutamento porque era segredo. Dois ou três dias depois, nossos clientes começaram a receber um monte de e-mails da Catho', conta Abrileri. 'Fizemos a perícia interna desses acessos e caímos na sede da Catho.'

No formato de trabalho adotado pela Curriculum, os candidatos às vagas cadastram-se gratuitamente e as empresas interessadas em acessar o banco de dados para recrutamento pagam uma taxa para ter acesso às informações.

Na hora do cadastro, as empresas interessadas são obrigadas a 'assinar' um contrato em que consta que as informações só poderão utilizadas para fins de recrutamento e seleção de profissionais e que elas não podem ser repassadas a uma terceira empresa. Na Catho, são os candidatos às vagas que pagam para colocar seus currículos na internet.

Em nota oficial divulgada ontem, Case afirma que 'o seu enorme sucesso está incomodando a concorrência.'

A advogada da Curriculum, Juliana Rosenthal, afirma que está providenciando uma ação criminal contra a Catho, envolvendo concorrência desleal, furto e formação de quadrilha. 'Ele (Thomas Case) defende-se de tudo isso com base em direito autoral. Isso pode até ser discutível, pois é um tema novo, mas é incontestável a prática de concorrência desleal', diz a advogada.

De fato, o termo 'roubo de currículos' é citado inúmeras vezes nas transcrições dos diálogos encontrados nos computadores da Catho. Em uma das trocas de mensagens por ICQ (sistema de comunicação por mensagens rápidas), um funcionário da Catho fala sobre a suspeita de que a falta de espaço em disco em um computador servidor, que estava com 99% do espaço ocupado, teria sido causada principalmente por currículos roubados.

Em uma troca de e-mails entre Adriano Meirinho e Eduardo Hereny, ambos da Catho, foi citada várias vezes a utilização de CPFs e CGCs falsos para 'roubar currículos' (ver quadro). Meirinho, de apenas 21 anos, é o administrador do site da Catho ('webmaster').

Thomas Case atribui os termos 'roubar' utilizados pelos seus funcionários de 'infantilidade dos jovens', e afirma que, na prática, não houve nenhuma atividade ilegal por parte da sua empresa. 'O assunto principal é: há ou não há direito autoral sobre dados?', diz Case. Ele afirma que há um parecer elaborado pelo jurista Ronaldo Lemos da Silva, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ), que demonstra que a Catho Online agiu dentro da legalidade.

'A ação promovida pela Curriculum não tem fundamento jurídico e será decidida oportunamente em juízo. Tudo leva a crer que se trata de uma manobra ardilosa para prejudicar a Catho Online, reconhecidamente a maior e melhor empresa de recolocação do mercado', afirmou Case na nota oficial divulgada ontem. 'A Catho aguarda confiante a decisão judicial.'

Por Roberta Lippi, de São Paulo



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