Em um intrigante estudo sobre inteligências coletivas, Thomas Malone e um time de pesquisadores do MIT analisaram grupos com habilidade acima da média na resolução de problemas.

O resultado mostrou que o QI dos envolvidos não era tão crucial como se espera, assim como a presença de uma ou duas pessoas especialmente capazes não era algo crítico.

Os grupos com melhor performance tinham algumas qualidades chave, como:

  • as pessoas neles se escutavam de modo mais proporcional e atento, todos tinham tempo de fala
  • havia grande sensibilidade social nas pessoas do grupo, elas estavam conectadas às emoções e necessidades umas das outras

Ou seja, escuta compartilhada e sensibilidade social tornam o trabalho mais eficaz. É um longo avanço para um termo cuja origem remonta ao latim tripalium, um obscuro instrumento de três paus usado para subjugar ou torturar animais e escravos, os forçando a trabalhar mais.

Era torturado, ou “trabalhava”, quem não tinha dinheiro para os impostos. Com o passar dos séculos, a palavra passou a significar a atividades físicas exaustivas e duras. No século XIV, começou a surgir o sentido mais amplo que conhecemos hoje. Mas de forma ainda bem lenta. Pois no século XIX, trabalho ainda era bastante associado a agricultores, operários e máquinas.

Hoje, quem diria, trabalho é pra se amar. Entretanto, com um passado desses, não é de se estranhar que haja alguns esqueletos nesse armário e que ainda haja tanto sofrimento ligado ao modo como trabalhamos.

A verdade para mim é que, passado obscuro ou não, gosto de trabalhar. Melhor dizendo, ficaria feliz se pudesse trabalhar menos ter mais dias de ócio, mas aprecio o que ele representa para mim. Nas palavras de 1899 do escritor polonês Joseph Conrad:

“Gosto do que está no trabalho, a chance de se encontrar.”

Por meio do trabalho, podemos nos fazer úteis às pessoas. Ser parte de algo maior ou apenas executar algo pequeno e específico, mas que precisa ser feito. Podemos nos expressar criativamente (privilégio moderno) ou usar as mãos e nossa mente de modo bastante particular e habilidoso. Quem sabe ainda, no seu caso, seja um trabalho repetitivo, enfadonho. Ainda assim, dele vem o sustento pra fazer outras coisas que nos agradem e para cuidar de nós mesmos e daqueles que amamos.

Acho difícil pensar num trabalho que não gere benefício algum a outra pessoa. Sendo assim, pode sempre ser exercido com dignidade.

Trabalhar envolve aprender, ensinar, nos relacionar. Naturalmente, essa trinca pode significar um inferno ou uma oportunidade permanente de treino para nossas faculdades mentais e emoções. Pensando nisso, vou oferecer um pouco do que funcionou pra mim ao longo dos anos.

1. “Eu não construo casas, construo relações”

Nunca mais vou esquecer dessa frase. A escutei de uma pessoa responsável por colocar de pé casas ao redor de todo o Brasil, em sua maioria construídas por meio de doações diversas e esforço comunitário.

A visão por trás é simples. Um trabalho não é concluído pela execução de tarefas numa certa ordem. Ele é feito pela intenção e disposição das pessoas em fazer o que é atribuído a elas, com esmero e eficiência.

Mas de onde surgem a disposição, a competência, o esmero? Seria apenas do dinheiro?

Creio que não só, pois cansamos de ver por aí pessoas e equipes muito bem pagas realizando trabalhos sofríveis. Nossa energia brota das relações que cultivamos com nosso encargo, com a visão à respeito do que fazemos e com aqueles que nos relacionamos para desempenhar a função.

Um trabalho simples e bem pago, cercado de pessoas que nos tratam mal, se torna desesperador. Um trabalho dos infernos realizado com parceiros em todas as direções se torna mais prazeroso. Ou, como dizia um ex-sogro árabe, “antes um mau negócio com um ótimo parceiro do que um ótimo negócio com um mau parceiro”.

O ponto é: sem as pessoas caminhando junto, você avança com o freio de mão puxado. Com elas na mesma direção, o câmbio destrava e você vai até a quinta marcha.

2. “A Accenture era um inferno pra muitos, pra mim foi incrível”

Essa escutei do Eduardo Amuri, na roda de conversa que ele conduziu sobre o tema trabalho, aqui no PdH mesmo. Ele abriu narrando sua experiência na Accenture, que é conhecida por relatos de esfolar seus funcionários, os levando à exaustão.

Amuri entrou lá como estagiário e, no primeiro dia, derrubou café no teclado do chefe. Ao invés de ser humilhado, foi acolhido. E seguiu vendo o chefe acolher e agir com sabedoria em diferentes situações.

Não importa o quão complicada seja a empresa onde trabalha, você sempre pode fazer do local específico onde atua um espaço de mais fluidez, apoio mútuo e eficiência.

Ao invés de reclamar de tudo e seguir na inércia, experimente transformar quem está do seu lado em parceiros, já.

Brinque, ainda que por alguns dias ou semanas, que seu foco na empresa, acima de qualquer outro, é cultivar aliados. Se não souber como fazer isso, pule no texto “Cultive relações de parceria”, pode ajudar.

Saia do seu caminho pra fazer isso e coloque um esforço deliberado, movido pela motivação legítima de tornar o ambiente mais agradável para todos — afinal, como vimos no ponto 1, o trabalho é feito de relações, não só de tarefas executadas em sequência.

Depois nos conte como foi a experiência.

3. Que “uma tarefa por vez” seja o seu mantra do ano

Coloque o celular no modo avião até finalizar a tarefa pretendida — sério, essa é uma das dicas mais simples e úteis em meu cotidiano.

Tenha o mínimo necessário de abas abertas em seu navegador para realizar o que precisa. Se estiver cansado, levante da mesa, faça um lanche ou caminhe para refrescar a mente. Retorne e faça o que deve ser feito.

Aqui uma sugestão que me ajudou muito: “Como trabalhar 40 horas em 17”.

Falar que estamos “na correria” e seguir fazendo várias tarefas juntas, alegando falta de tempo, é como estar se afogando e dizer que está muito ocupado para segurar uma bóia.

Poucas coisas geram mais retrabalho do que falta de atenção. Emails mal escritos significam reuniões extras de alinhamento, ligações confusas levam a viagens perdidas, apresentações finalizadas às pressas fecham menos negócios, as falhas anteriores levam a mau humor e ansiedade, reforçando e piorando todo o ciclo.

Quando alguém estiver em pane ao seu lado, exigindo que você também vista a camisa da empresa trabalhando como um demente, responda que é devagar que se anda mais rápido.

4. Escute de modo mais proporcional todos na equipe

Esse é o item ressaltado pelo estudo do MIT, que apresento no início desse artigo. Significa todos no time terem mais tempo de fala e serem escutados, de fato.

Não vale dar tempo ao outro e ficar no celular, é preciso estar presente. O que aconteceu comigo quando comecei a praticar isso de verdade, no meio desse ano, foi que notei como às vezes eu já escutava alguém com indisposição e desinteresse, por mero hábito. E quando resolvi experimentar “resetar” minha percepção mental do outro, percebia várias ideias ótimas escondidas pela minha incapacidade de olhar o outro de forma mais ampla.

Creio que essa sugestão vale não só para gestores. Um jeito de facilitar o processo, independente de sua posição no time, é fazer questão de perguntar a opinião mesmo de quem costuma ficar em silêncio. Ou direcionar seu olhar ou fala pra quem está se sentindo mais esquecido, seja com perguntas ou elogios.

Entendendo também que isso é um percurso e toma tempo. Não basta escutar numa única reunião ou email, é importante seguir com essa escuta de modo mais permanente. A fonte desse ensinamento é o livro “Beyond Measure: the impact of small changes”, recomendo.

5. Separe parte do dia ou semana pra fazer algo que te dê tesão

Me movo muitíssimo por energia. E é batata. Quando vou ficando mau humorado demais com o trabalho, faz dias ou semanas que não realizado algo que me dá gosto.

Isso é diferente de gostar dos benefícios que você gera às pessoas ou apreciar a ideia maior do que seu trabalho representa — amo a ideia do PdH, mas há semanas em que estou completamente exausto com a rotina —, é colocar a mão na massa em tarefas que te dão prazer genuíno.

Nem todos possuem essa necessidade, mas comigo é assim. Se não há prazer no que faço por períodos longos demais, minha energia vai se derramando como numa ampulheta, até eu me esgotar e fechar cada vez mais. Me enxergo com uma resiliência bastante grande, pra suportar períodos duros. Porém, se posso atravessar os mesmos períodos com mais brilho no olho e gás no tanque, não vejo porque deixar de fazer isso.

O exercício aqui poderia ser: qual atividade é essa que te dá alegria? Se nada no trabalho em si te dá essa alegria, será que consegue ser mais eficiente em sua rotina e ter mais tempo de almoço ou quem sabe não levar nenhum trabalho pra casa, liberando espaço pro que realmente te energiza?

6. Não subestime o poder de uma boa ligação

Em tempos de facebook, whatsapp, twitter e instagram, é fácil esquecer dessa arcaica função de ligar para as pessoas.

Mas o telefone transmite energia de modo bastante particular. E costumo usar bastante o poder das ligações pra resolver problemas e acelerar processos.
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Agora quero escutar e aprender. O que você faz para o trabalho doer menos e render mais? Das sugestões que dei, qual mais faz sentido em seu contexto?

Seguimos nos comentários.

Fonte: Papo de Homem