Para um recrutador minimamente experiente, é muito fácil distinguir candidatos que se expressam de forma natural numa entrevista de emprego daqueles que apenas repetem falas ensaiadas.

De acordo com Ricardo Karpat, diretor da consultoria Gábor RH, quem está seguindo um “script” costuma escapar à linha de raciocínio do avaliador com mais frequência.

“Se a pessoa está muito preocupada em dizer o que memorizou, ela acaba não respondendo exatamente ao que foi perguntado”, explica. “Quando a questão foge dos pontos que ela decorou, ela tem dificuldade de improvisar”.

Via de regra, o esforço de afirmar aquilo que o recrutador supostamente quer ouvirsai pela culatra.

“Perceber que o candidato está dizendo frases prontas, memorizadas, é algo que mina a confiança de qualquer recrutador”, explica Jorge Martins, gerente da consultoria Robert Half.

Além de depor contra a sua transparência, o comportamento de “robô” pode limitar as possibilidades da conversa. Tenso e apegado ao seu roteiro, você deixará de fazer alguns comentários espontâneos que até poderiam cativar o entrevistador.

O segredo é se preparar — e não se programar.

Para Fernando Poziomckyk, gerente da Michael Page, todo candidato deve pesquisar o máximo possível sobre a empresa, refletir sobre a sua própria trajetória e até imaginar algumas perguntas que podem ser feitas na entrevista.

Essa pré-organização mental é o que tornará o seu discurso mais espontâneo, preciso e convincente.

Também vale ter em mente algumas das frases que soam inevitavelmente robóticas para os ouvidos de um entrevistador. Confira a seguir 10 delas:

“Tenho foco no resultado”

Clichê no mundo corporativo, a afirmação só merece ser dita numa entrevista de emprego se o profissional conseguir justificá-la com fatos. “Traga um exemplo da sua trajetória, uma situação real em que você claramente priorizou os resultados sobre todo o resto”, diz Poziomczyk. Não tem nenhum exemplo para embasar a sua afirmação? É melhor não dizer nada.

“Meu principal defeito é ser perfeccionista”

Além de pouco modesta, esta frase denota que o candidato não conhece bem suas forças e fraquezas — uma capacidade que faz brilhar os olhos dos recrutadores. Isso para não falar na péssima reputação do próprio perfeccionismo. “Se a pessoa realmente só consegue entregar algo depois que estiver perfeito,ela nunca deve entregar nada”, afirma Martins.

“Estou em busca de um desafio”

Formulada com o intuito de impressionar o recrutador, esta declaração soa vaga e pouco sincera na opinião de Karpat. Afinal, diz ele, a noção de desafio pode variar muito de pessoa para pessoa. Para ser levado a sério, é melhor conversar com o recrutador sobre projetos, ambições e metas específicas que você estabeleceu para a sua carreira.

“Gosto de pensar fora da caixa”

A tentativa, aqui, é se vender como um profissional inovador, aberto a novas ideias. Porém, grande parte das pessoas que profere a desgastada expressão está atestando, ironicamente, a sua própria falta de originalidade. “É um tipo de frase feita que já não surte nenhum efeito sobre o avaliador”, afirma Poziomczyk. “Em vez disso, leve fatos que comprovem a sua criatividade”.

“Sou dinâmico / flexível / proativo / ‘mão na massa’ / ótimo em relacionamentos…”

Adjetivos são traiçoeiros: o ideal é não empregá-los nem em currículos, nem em entrevistas de emprego. Os recrutadores ouvidos por EXAME.com são unânimes no diagnóstico de que o discurso do candidato se torna pouco convincente quando ele tenta qualificar o seu próprio comportamento. Se você quer destacar algum traço da sua personalidade, é melhor fazer isso de forma indireta, com referência a feedbacks recebidos de chefes e pares no passado.

“Sempre sonhei em trabalhar aqui” 

Por mais que você tenha uma admiração sincera pelo seu potencial empregador, este é o tipo de declaração que faz você soar artificial. Segundo Martins, alguns candidatos chegam a fazer referência a memórias afetivas da infância para tentar sensibilizar o recrutador. Não funciona. “Pouco importa se você leu um livro sobre a empresa quando era criança”, diz ele. “Se você quer expressar seu respeito pela instituição, faça um comentário profissional, sobre o bom faturamento ou a transparência das política internas da empresa, por exemplo”.

“Acabei fazendo um acordo com a empresa para sair”

É delicado falar sobre desligamentos em entrevistas de emprego, mas isso não é pretexto para ensaiar uma versão fictícia da história. Quando um candidato diz que “fez um acordo” — e não que foi demitido —, muitos recrutadores ficam desconfiados. Na visão de Poziomczyk, a não ser que esse tenha sido realmente o caso, é melhor dizer abertamente que mandaram você embora.

“Não fiquei desempregado por falta de opção, tirei um tempo para mim”

Períodos sabáticos existem, mas são muito diferentes de “um tempo para você”. Segundo Karpat, a suspeita aparece porque muitos profissionais têm dificuldade de admitir que ficaram desempregados. Se você realmente tirou um sabático, é preciso completar a declaração, explicando quais foram as suas razões para fazer esse movimento e o que ele acrescentou à sua carreira.

“Não me permito errar”

O engano, a imprecisão e o fracasso fazem parte da vida das empresas. Dizer que você não aceita de forma alguma os seus próprios equívocos soa pouco simpático e, no limite, pouco humano. “Dizer isso é um grande tiro no pé”, afirma Martins. “Além de parecer só uma frase de efeito, é como passar um atestado de que você é incapaz de correr riscos”.

“Consigo me adaptar a tudo”

O exagero desta declaração não apenas soa pouco autêntico: ele também transmite uma inegável dose de insegurança. “Se o candidato me diz que abraça o que vier pela frente, o que eu entendo é ele não tem nenhum foco, ou pior, que ele está tão desesperado que topa qualquer emprego”, diz Poziomczyk.

Fonte: Exame.com