Na passagem de maio para junho, queda na produção foi disseminada entre as grandes categorias econômicas e atividades industriais. Setor fechou o segundo trimestre do ano com perda de 2,5%.

A produção industrial brasileira ficou estagnada em junho, com variação nula, de 0,0%, na comparação com maio, quando havia avançado 1,4%. Com esse resultado, o setor completou dois trimestres seguidos de queda. É o que apontam os dados divulgados nesta terça-feira (3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Com essa variação nula em junho, o setor permanece no patamar pré-crise, mas no resultado desse mês observa-se uma predominância de taxas negativas entre as atividades industriais”, apontou o gerente da pesquisa, André Macedo.

Indústria registra variação nula em junho — Foto: Economia/G1

Segundo o pesquisador, ao se manter no patamar de fevereiro de 2020, antes do início da pandemia, a indústria opera em nível semelhante ao que era observado em fevereiro de 2009. Isso equivale a dizer que o setor se encontra 16,7% abaixo de seu ponto mais alto, alcançado em maio de 2011.

Em janeiro deste ano, quando a indústria acumulava nove taxas positivas seguidas, a distância do patamar em relação ao ponto mais alto da série era de 13,8%. “Isso dimensiona a perda de ritmo do setor ao longo deste ano”, destacou Macedo.

Embora o resultado do setor industrial como um todo ter sido de estagnação, três das quatro grandes categorias econômicas e 14 das 26 atividades investigadas pelo IBGE registraram queda na produção no mês.

Dois trimestres seguidos de queda

Diante destes resultados, o setor industrial fechou o segundo trimestre do ano com queda de 2,5% na comparação com o primeiro trimestre. Foi a segunda taxa trimestral negativa seguida nesta base de comparação (trimestre contra trimestre imediatamente anterior).

Indústria tem queda na produção pelo segundo trimestre consecutivo — Foto: Economia/G1

Taxas altas frente base de comparação baixa

Já na comparação com junho de 2020, a indústria registrou crescimento de 12%, a 10ª décima taxa positiva consecutiva nesta base de comparação. Já o resultado do 2º trimestre na comparação com igual trimestre do ano passado foi de alta de 22,6%, acumulando alta de 12,9% no semestre na comparação com o segundo semestre do ano passado.

Também foi registrado novo avanço do indicador acumulado em 12 meses, que passou de 4,9% em maio para 6,6%, o que demonstra manutenção do ritmo de retomada do crescimento da produção industrial iniciada em agosto do ano passado, quando apresentava queda de 5,7%.

Indicador acumulado em 12 meses mantém trajetória de recuperação iniciada em agosto do ano passado — Foto: Economia/G1

O gerente da pesquisa ponderou que a alta taxa acumulada em 12 meses “acontece diante de uma base de comparação muito depreciada”. Ele lembrou que no primeiro semestre de 2020 o setor acumulou perda de 10,9%.

“A magnitude de crescimento [do acumulado em 12 meses] de dois dígitos está associada ao fato de que o setor industrial, por conta da pandemia de Covid-19, mostrou perdas importantes naquele período”, disse.

Efeitos da pandemia prejudicam o setor

De acordo com o gerente da pesquisa, o menor dinamismo do setor industrial está relacionado aos efeitos da pandemia de Covid-19 no processo de produção e na economia.

“Há, no setor industrial, uma série de adversidades por conta da necessidade das medidas de restrição, como a redução do ritmo produtivo, a dificuldade de obtenção de matérias-primas e o aumento dos custos de produção”, apontou Macedo.

O pesquisador enfatizou que também pesam negativamente sobre a indústria a o alto desemprego no país, que compromete a massa salarial e impacta no consumo.

Disseminação de resultados negativos

Na passagem de maio para junho, houve disseminação de resultados negativos entre a maioria das grandes categorias econômicas e das atividades investigadas pelo IBGE.

Das quatro grandes categorias econômicas, apenas bens de capital registrou avanço na produção. Foi a terceira taxa positiva nessa comparação, acumulando crescimento de 5,9% nesse período.

Já a queda mais acentuada foi observada em bens de consumo semi e não duráveis, eliminando parte do avanço de 3,6% registrado no mês anterior, quando interrompeu três meses seguidos de queda, período em que acumulou redução de 11,5%.

Resultados de junho por grande categoria:

  • Bens de capital: 1,4%
  • Bens de consumo: -0,9%
  • Bens de consumo semiduráveis e não duráveis: -1,3%
  • Bens intermediários: -0,6%
  • Bens de consumo duráveis: -0,6%

Já entre as 26 atividades investigadas, 14 registraram queda na produção em junho. A perda mais relevante foi a de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,8%), que voltou a recuar após crescer nos meses de abril (1,6%) e maio (0,3%).

Também se destacaram negativamente as atividades de celulose, papel e produtos de papel (-5,3%), que teve a terceira taxa negativa seguida, acumulando perda de 8,4% no período; e a de produtos alimentícios (-1,3%), cujo resultado eliminou parte do avanço de 2,9% registrado em maio.

Outras contribuições negativas importantes partiram de produtos de metal (-2,9%), indústrias extrativas (-0,7%), produtos diversos (-5,8%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-2,5%), móveis (-5,2%) e outros produtos químicos (-0,8%).

Já entre as 11 atividades que registraram crescimento na produção, o principal destaque ficou com a de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,1%), que já havia crescido 2,7% no mês anterior.

Também se destacaram as atividades de máquinas e equipamentos (2,9%), de outros equipamentos de transporte (11,0%), de couro, artigos para viagem e calçados (6,0%) e de impressão e reprodução de gravações (12,3%).

Maioria das atividades ainda não retomou nível pré-pandemia

Com a disseminação de resultados negativos em junho, a maior parte das atividades industriais ficaram com o patamar de produção abaixo do nível pré-pandemia – em maio, metade havia recuperado as perdas.

As atividades de confecção de artigos de vestuário e acessórios e veículos automotores, reboques e carrocerias eram as que apresentavam a maior distância do patamar de fevereiro do ano passado.

Do lado oposto, as atividades de máquinas e equipamentos e de outros equipamentos de transporte eram as atividades que mais havia apresentado crescimento frente ao patamar pré-pandemia.

Em junho, maioria das atividades industriais tinham patamar de produção abaixo do nível pré-pandemia — Foto: Economia/G1

Perspectivas

Em julho, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 0,8 ponto, para 108,4 pontos, segundo a Fundação Getulio Vargas. Esta foi a terceira alta seguida do indicador, que atingiu o maior patamar desde janeiro, quando ficou em 111,3.

Apesar da melhora, o otimismo dos empresários em relação aos próximos meses desacelerou, influenciado pela escassez de insumos e pela possibilidade de racionamento energético no país, além da alta incerteza econômica em relação ao segundo semestre do ano.

A despeito das incertezas, o mercado financeiro elevou, mais uma vez, a estimativa de crescimento da economia em 2021. Conforme o relatório Focus, divulgado nesta segunda-feira (2) pelo Banco Central, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro foi revisada de 5,05% para 5,30%.

Os analistas do mercado financeiro também elevaram de 6,36% para 6,38% a expectativa de crescimento da produção industrial este ano. Se a projeção se confirmar, o setor terá o primeiro resultado anual positivo após dois anos seguidos de queda – em 2020, a indústria brasileira registrou um tombo de 4,5%, depois de ter recuado 1,1% em 2019.

Economistas têm destacado que uma recuperação mais consistente do mercado de trabalho só deverá ser mais visível a partir o segundo semestre, e condicionada ao avanço da vacinação e também à retomada do setor de serviços – o que mais emprega no país e o mais afetado pelas medidas de restrição para conter o coronavírus.

Fonte: G1 Globo

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