Benefícios de trabalhar de qualquer lugar podem vir com prejuízos para aqueles que ficam só no home office, como promoção de vagas e visibilidade com as lideranças

Quando os escritórios finalmente reabrirem, algumas empresas planejam usá-los de uma maneira muito diferente da que usavam antes da pandemia, dando aos trabalhadores a opção de vir apenas alguns dias por semana – ou nenhum dia. Alguns funcionários estão ansiosos para voltar ao escritório em tempo integral assim que puderem, mas outros não conseguem se imaginar voltando para o jeito que as coisas eram. Oferecer às pessoas mais flexibilidade quanto ao local de trabalho pode ajudar a atrair e reter talentos, dizem as empresas.

Recentemente, cerca de 10 mil funcionários do Google se inscreveram para o trabalho remoto, ou home office, ou se transferir para outro local, e a empresa aprovou 85% das solicitações. A plataforma imobiliária Zillow diz que mais mulheres se candidataram a seus empregos desde que ela anunciou, um ano atrás, que a maioria de seus 5.900 funcionários poderia trabalhar de casa permanentemente. A empresa de software Slack, que também ofereceu posições remotas permanentes no ano passado, disse que entre as contratações recentes o número de trabalhadores de minorias foi 50% maior para aqueles que planejavam trabalhar principalmente em casa do que para aqueles que preferiam o escritório.

Mas, mesmo que o local de trabalho híbrido reduza algumas barreiras antigas, ele pode introduzir outro tipo de desigualdade. O preconceito contra trabalhadores remotos pode se tornar um novo obstáculo para tornar os locais de trabalho mais diversificados e inclusivos, dizem os próprios especialistas em gestão e executivos corporativos.

“Os funcionários que trabalham presencialmente podem ter mais visibilidade com a liderança”, disse Sonja Gittens Ottley, chefe de diversidade e inclusão da empresa de software Asana, que tem mais de 1 mil funcionários que poderão passar dois dias por semana trabalhando remotamente quando os escritórios forem reabertos. “Eles podem ter mais oportunidades de orientação e apoio.”

Embora a maioria das evidências de que trabalhadores remotos estariam em desvantagem sejam anedóticos, pelo menos um estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Stanford, sugere que eles têm menos probabilidade de serem promovidos do que seus colegas no escritório. No experimento, os pesquisadores designaram aleatoriamente funcionários de uma grande agência de viagens de Xangai para trabalhar remotamente ou no escritório por nove meses. Embora os funcionários remotos fossem 13% mais produtivos, dedicando mais horas e fazendo mais ligações por minuto, eles foram promovidos com cerca de metade da frequência de seus colegas no escritório.

“Eles podem ser esquecidos”, disse Nicholas Bloom, professor de economia em Stanford e um dos autores do estudo.

O resultado é preocupante em parte porque o desejo de trabalhar remotamente não é distribuído de maneira uniforme, disse Bloom. Ele e sua equipe de pesquisa realizaram pesquisas mensais sobre trabalho remoto desde maio do ano passado. Em março deste ano, entre pais com ensino superior, as mulheres disseram que queriam trabalhar em casa em tempo integral com cerca de 50% mais frequência do que os homens.

Fiscalização do tratamento aos colaboradores

O site de empregos Indeed está pensando em como monitorar seus dados de promoção e pagamento para identificar sinais de que os trabalhadores remotos não estão recebendo tratamento igual, semelhante à forma como examina os dados como parte de seus esforços de diversidade e inclusão, disse Paul Wolfe, diretor de recursos humanos da empresa. Além dos fatores demográficos, “outro dado será se este funcionário está remoto, flexível ou no escritório”, disse ele. De fato, deu a seus 10 mil funcionários a opção de trabalhar de casa permanentemente.

“Sentir-se como se você fosse de segunda classe e sentir que suas oportunidades de carreira são limitadas significa que você provavelmente não vai investir tanto na empresa quanto poderia”, disse ele. “E isso significa que a empresa vai perder funcionários talentosos”.

Na Zillow, “faremos tudo o que pudermos para nos afastar ativamente da forma como costumávamos trabalhar”, disse Meghan Reibstein, vice-presidente de operações organizacionais da empresa. Antes da pandemia, menos de 2% dos funcionários da empresa trabalhavam remotamente. Agora, cerca de dois terços planejam continuar trabalhando de casa indefinidamente. Em uma pesquisa interna, disse Reibstein, cerca de 60% dos funcionários disseram que gostariam de ir a um escritório entre uma vez por mês e uma vez por ano.

Outra mudança que empresas como a Zillow e a Salesforce estão fazendo para nivelar o campo de jogo para os trabalhadores remotos é a forma como conduzem as reuniões. Em vez de ter funcionários internos reunidos em uma sala de conferências enquanto funcionários remotos ficam online, se uma pessoa não estiver na sala física, todos irão participar separadamente de seus laptops, mesmo que estejam no escritório.

“O espaço é igual na tela e o nome de todos está lá”, disse Reibstein.

Para fomentar a espontaneidade das interações no escritório, a Indeed está explorando tecnologias que incluem a instalação de telas nas cozinhas de seus escritórios que permitiriam que os funcionários remotos se envolvessem em conversas casuais da “hora do cafezinho” com seus colegas de trabalho. Já se demonstrou que a conversa fiada no escritório promove um maior senso de pertencimento.

Mudanças como essas podem ajudar a reduzir parte do preconceito contra trabalhadores remotos, mas apenas até certo ponto.

Veja, por exemplo, as reuniões em que todos falam a partir de um laptop: “Depois que a reunião termina, as três pessoas do escritório fecham seus laptops, saem dos cubículos e vão tomar café, vão bater papo no corredor, basicamente continuam a reunião”, disse Bloom. “E aí você naturalmente tem um grupo interno e outro externo”.

Este artigo foi originalmente publicado no The New York Times. / Tradução de Renato Prelorentzou.

Fonte: Terra

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