Numa entrevista de emprego, é fundamental que você seja honesto e responda com franqueza às perguntas do seu avaliador.

Mesmo assim, é importante lembrar que a conversa com o recrutador pode – e deve – respeitar alguns limites, diz Luís Fernando Martins, diretor nacional da consultoria Hays.

“O objetivo da entrevista é levantar apenas os pontos pertinentes para a seleção de um candidato, como as suas experiências, competências e expectativas quanto à vaga”, diz ele. “Tudo que vá além disso, misturando profissional e pessoal, por exemplo, pode ser dispensado”.

Demandas muito específicas do empregador podem criar exceções pontuais a essa regra.

Muitas empresas têm como política não contratar quem tiver um cônjuge empregado na concorrência, por exemplo. “Por uma questão estratégica, de sigilo, a empresa tem o direito de querer saber se pessoa com quem você é casado trabalha numa empresa do mesmo setor”, afirma Martins.

No entanto, de forma geral, é melhor evitar trazer voluntariamente detalhes sobre a sua vida privada que não fazem diferença para o processo seletivo, diz a consultora Isabela Tuca, da Randstad Professionals.

“Eu me lembro de uma candidata que estava indo muito bem numa seleção e começou a falar, depois da entrevista, sobre os problemas que estava tendo com uma reforma em sua casa”, conta Isabela. “Ela falou com tanta ênfase sobre o tema que assustou o empregador e acabou sendo eliminada do processo”.

O que pode ficar de fora?
Martins afirma que, embora seja desaconselhável trazer voluntariamente assuntos que não dizem respeito à sua carreira, o ideal é responder a todas as questões do recrutador.

Afinal, as perguntas preparadas para a entrevista de emprego vão refletir o que é importante do empregador – daí a necessidade de alinhar as expectativas dos dois lados desde o início da aproximação.

Se, ainda assim, você sentir que a pergunta não é pertinente para o processo, é perfeitamente lícito se manifestar. “Você pode questionar, sempre de forma sóbria e educada, o quão relevante é aquele assunto para a vaga”, diz Martins.

A seguir, veja 5 pontos sobre um candidato que podem ser deixados fora da discussão num processo seletivo, segundo especialistas consultados por EXAME.com:

1. Religião
Algumas empresas podem perguntar sobre as crenças de um candidato com o intuito de conhecer melhor seus compromissos e hábitos – bem como sua disponibilidade para trabalhar em domingos e feriados, por exemplo.

Porém, enquanto informação de caráter estritamente pessoal, a fé – ou falta dela – não é um assunto sobre o qual você deva se sentir obrigado a responder. “Se isso for perguntado, o candidato tem o direito de questionar qual é a importância do tema para a empresa”, diz Martins.

2. Posicionamento político
Em tempos de discussões acaloradas sobre política no Brasil, é melhor não trazer o assunto à tona perante o recrutador. “Como esse é um assunto que anda à flor da pele para muita gente, é melhor evitá-lo, a não ser que o questionamento parta do seu interlocutor”, diz Leandro Bittioli, gerente da consultoria Talenses.

E como reagir se o recrutador fizer algum comentário ou pergunta nesse sentido? A orientação de Bittioli é responder da forma mais sóbria e equilibrada possível, sempre respeitando o ponto de vista do outro, ainda que seja completamente oposto ao seu. Afinal, dependendo do preparo e da maturidade do recrutador, o saldo da discussão pode pesar contra você.

3. Idade
De acordo com Martins, nenhum candidato é obrigado a fornecer sua idade se não quiser. Por outro lado, diz ele, é compreensível que o recrutador se interesse por esse dado.

“Saber a idade do candidato pode ser importante para quem quer montar uma equipe diversa, inclusive do ponto de vista etário, com visões de mundo diferentes”, explica. “De qualquer forma, não é uma informação crítica, portanto não é imprescindível”.

4. Razões pessoais para ter saído do último emprego
Descrever a sua história profissional de forma sincera e coerente é crucial para o sucesso numa entrevista de emprego. Mas nem todos os detalhes precisam ser colocados na mesa – sobretudo se envolverem conflitos interpessoais.

Se você brigou com o seu chefe e pediu demissão, por exemplo, não é preciso contar o ocorrido com todas as palavras – nem mesmo se o recrutador insistir, diz Martins. “Para evitar uma exposição desnecessária dos envolvidos, é melhor simplesmente dizer que as suas expectativas entraram em descompasso com as da empresa, sem mais delongas”, explica ele.

5. Nomes das empresas para as quais você também está se candidatando
Segundo Bittioli, o entrevistador tem o direito de perguntar se o profissional está participando de outros processos seletivos, bem como a que fase em que se encontra em cada um deles. “É o tipo de informação que pode ajudá-lo a agilizar o processo de contratação, se for necessário”, explica.

O recrutador pode até perguntar de qual segmento fazem parte os outros possíveis contratantes – mas não pode exigir saber seus nomes. “Muitas vezes, o candidato participa de seleções que exigem confidencialidade”, diz ele. “Pelo compromisso que assumiu, ele tem o direito de omitir a identidade das outras empresas para as quais se candidatou”.

Fonte: Exame.com