A internet mudou radicalmente a forma de procurar emprego. Se, no passado, o candidato precisava se debruçar sobre os classificados do jornal para “garimpar” uma única vaga, hoje ele encontra dezenas delas com poucos cliques.

Isso não significa que achar a oportunidade profissional mais adequada ao seu perfil seja necessariamente mais fácil.

Afinal, se é inegável que os empregadores se tornaram mais acessíveis graças às mídias digitais, também é verdade que as exigências deles se tornaram maiores e mais complexas.

De acordo com Jorge Martins, gerente de divisão da consultoria de recrutamento Robert Half, o mercado de trabalho tem solicitado profissionais cada vez mais especializados.

Hoje, as empresas não contratam mais “gerentes” ou “analistas” aptos a trabalhar em qualquer área, como era comum no passado. Elas preferem pessoas altamente qualificadas para resolver problemas cada vez mais específicos.

Some-se a isso outra novidade de grande impacto: as redes sociais. A enorme visibilidade trazida por esses meios exige que o profissional redobre sua atenção quanto à própria imagem – um cuidado especialmente importante quando vai procurar emprego.

Enquanto, no passado, vida pessoal e profissional eram muito separadas uma da outra, hoje é muito mais fácil confundi-las. Se não souber gerir estrategicamente a sua presença em redes sociais como LinkedIn e Facebook, você corre o risco de afastar recrutadores e perder oportunidades.

Diante de tantas mudanças, é importante “passar a limpo” velhas regras sobre busca de emprego que já não cabem na realidade atual. Veja a seguir 5 conselhos tidos como ultrapassados por três especialistas consultados por EXAME.com:

1. “Candidate-se a qualquer vaga, o importante é que o seu currículo chegue até a empresa”

Até um passado recente, diz Martins, era relativamente comum enviar o CV para um potencial empregador mesmo que a vaga anunciada não tivesse nada a ver com o seu perfil. “Como o processo de recrutamento era mais lento, não era tão ruim para a empresa receber um currículo fora de contexto, porque ele poderia ser aproveitado de alguma forma”, explica ele.

Hoje, com diversos processos automatizados, o departamento de recursos humanos é cada vez mais cobrado por eficiência – e não lhe sobra quase nenhum tempo para analisar currículos não solicitados.

Isso também vale para eventuais contatos que você tenha dentro da empresa onde quer trabalhar, afirma Marcelo Nóbrega, autor do livro “Você está contratado!” (Editora Évora). “Só mande o seu CV se o seu conhecido tiver pedido”, diz ele. “Caso contrário, o destino da sua mensagem será o lixo”.

2. “Aceite a vaga que vier, só não fique muito tempo desempregado”

É claro que passar tempo demais fora do mercado prejudica a carreira – e o bolso. Ainda assim, não é interessante dizer sim à primeira oportunidade que aparecer, diz Nóbrega. “Se a vaga não tiver nada a ver com você, você pode fracassar e até ser demitido”, explica ele. “Isso para não dizer que uma passagem fora de contexto pode comprometer a coerência do seu currículo no futuro”.

Hoje, estar desempregado não tem mais o mesmo peso simbólico que tinha quando funcionários e patrões eram mais fiéis uns aos outros. Num momento para os negócios em que a única certeza é a imprevisibilidade, as relações de trabalho se tornaram mais “líquidas” e, via de regra, têm durado menos tempo do que no passado.

Nesse novo contexto, as demissões se tornaram cada vez mais comuns -e não carregam mais o mesmo estigma do passado. “Não é mais o fim do mundo dizer que você está desempregado, e por isso você não precisa mais topar qualquer coisa só para se recolocar”, afirma Nóbrega.

3. “Ir se apresentar pessoalmente pode deixar uma boa impressão”

Forçar um encontro presencial com alguém da empresa onde você quer trabalhar dificilmente renderá bons resultados. Segundo Martins, a falta de tempo da vida moderna requer cuidados extras na hora de se aproximar de um empregador.

A não ser que você tenha sido convidado, orienta o gerente da Robert Half, jamais vá pessoalmente entregar o seu currículo. Para ele, o candidato pode no máximo usar o telefone. “Ligar para dizer que você viu uma vaga e acredita estar apto para preenchê-la pode demonstrar interesse e segurança”, diz. “Mas faça isso apenas se de fato estiver inteiramente pronto e capacitado para a função”.

Até imprimir o currículo está deixando de fazer sentido. Segundo Silvio Celestino, sócio-fundador da Alliance Coaching, o que importa hoje em dia é ter um perfil no LinkedIn com as palavras-chave mais importantes. “Em uma apresentação presencial, é bom ter uma cópia impressa do CV, mas isso só vem muito tempo depois”, explica ele.
4. “É melhor não dizer quanto você realmente ganhava”

Ao buscar emprego, é preciso discutir com clareza as suas intenções salariais. Até para se ter alguma base de negociação, não há alternativa senão dizer qual era a sua remuneração no emprego anterior.

No passado, alguém poderia pensar que, se mentisse sobre o salário recebido na última empresa, poderia pedir mais ao contratante. Hoje, além de desonesta, essa tática está fadada ao fracasso. Afinal, ficou muito mais fácil checar esse tipo de informação.

Apoiados em bancos de dados e diversos canais de comunicação com o mercado, os recrutadores estão muito mais blindados a blefes de qualquer tipo, afirma Martins.
5. “Para fisgar o interesse da empresa, não deixe nada de fora do seu currículo”

Com o tempo cada vez mais curto, a maioria dos profissionais de RH só dá atenção a currículos objetivos e enxutos. Assim, não passa de uma ilusão acreditar que um longo CV indicará que você tem uma trajetória rica e robusta. Na verdade, a única mensagem que você passará será a de que não sabe resumir um texto – isso se ele for lido.

Assim, em vez de listar exaustivamente as suas competências e passagens profissionais, é melhor elaborar um currículo claro e preciso em no máximo duas páginas.

Segundo Martins, também é importante fazer um documento que seja adaptável. “Faça uma versão no CV para cada processo seletivo, incluindo ou excluindo informações em função da sua relevância para a oportunidade em questão”, explica.

Fonte: Exame.com