Alcançar o sucesso na carreira não é algo que se consiga do dia para a noite. Uma série de questões, como manter-se sempre atualizado, entender o mercado de trabalho, administrar conflitos com chefes, impor desafios a si mesmo e assumir riscos são fundamentais para ser um bom profissional. VEJA ouviu quatro especialistas em carreira e elencou 21 dúvidas bastante comuns no dia a dia do mundo dos negócios. Saiba quais são elas:

1 – Como e quando posso pedir aumento de salário?

Não existe uma regra sobre quando é o melhor momento para pedir aumento de salário. Segundo a professora Anna Cherubina Scofano, coordenadora do curso de capacitação em RH da Fundação Getulio Vargas (FGV) e mentora de carreiras, a primeira coisa que a pessoa precisa é ter noção daquilo que está produzindo de diferencial e do que está oferecendo em contrapartida para que a empresa lhe dê um aumento. “Quem quer pedir aumento tem que mostrar resultados de forma clara. Se tiver uma linguagem numérica, como por exemplo, mostrar que aumentou as vendas no último bimestre, melhor ainda”, diz. Outro fator fundamental é saber quanto quer receber de aumento e iniciar uma negociação de valor de forma clara. “Se deixar a definição do valor nas mãos do gestor, o funcionário pode receber abaixo do que esperava.”

2 – Quando vale a pena fazer MBA?

Para a professora Anna Cherubina Scofano, sempre que for possível para a pessoa. Hoje em dia, num mercado de trabalho competitivo, a graduação equivale ao ensino médio – todo mundo tem um curso de nível superior. A pós-graduação é um “up to date”, uma atualização necessária e que agrega muito ao currículo do profissional. “Se o profissional quer crescer dentro da empresa e atingir cargos de gerência e direção, um MBA é essencial, assim como o domínio da língua inglesa. Um detalhe importante, ressalta a professora, é que o MBA deve ser feito apenas por profissionais que já tenham pelo menos uns quatro anos de experiência. “O MBA é um curso mais estratégico e direcionado para quem já atua em determinada área, diferentemente de uma especialização, que é mais genérica”, explica.

3 – De que maneira resolver conflito com chefes difíceis?

Essa é uma situação muito delicada e que requer alguns cuidados. Para a psicóloga e coach de carreiras do Instituto Orienta, Taissa Mariotti, o primeiro passo é buscar entender o perfil do gestor que é considerado difícil e tentar estabelecer um canal de diálogo com ele. “É importante que o liderado também se imponha”, diz. Caso não consiga estabelecer um diálogo com o chefe, o segundo passo é procurar o RH da empresa ou algum outro gestor de confiança para expor o problema e tentar buscar uma solução. Se ainda assim não funcionar, a dica é começar a olhar para o mercado. “Todo profissional precisa de qualidade de vida. Se depois de várias tentativas de diálogo a situação continuar difícil, a sugestão é buscar um novo emprego”, diz.

4 – Virei chefe do meu ex-chefe. Como proceder?

Essa é uma situação incomum, mas que pode acontecer. A sugestão é chamar o ex-chefe para uma boa conversa e alinhar as expectativas, demonstrando que aquele não é um ambiente de competir e sim de unir forças. “Procure criar um ambiente favorável do ponto de vista emocional, demonstrando que os dois buscam os mesmos resultados para a empresa”, orienta Carlos Eduardo Altona, sócio-diretor da Exec (empresa de seleção e recrutamento de executivos e consultora de recursos humanos). Fernanda Schröder, gerente nacional de carreiras do Ibmec, compartilha a mesma opinião e reforça a importância de se estabelecer um bom vínculo e de criar empatia. “É preciso ter profissionalismo, acima de tudo. E uma boa conversa mostrando o papel de cada um a partir daquele momento.”

5 – Como reclamar de sobrecarga de trabalho sem parecer preguiçoso?

O primeiro passo é chamar o gestor para conversar sobre as expectativas do que ele espera que seja entregue, especialmente no caso de um profissional que esteja acumulando função de dois ou três. Apresente fatos e dados, com uma abordagem que seja numericamente mensurável, e defina as prioridades. “Enumere as atividades e apresente um cronograma do que consegue entregar em determinado prazo. Alinhar as expectativas é fundamental para que o gestor entenda as razões da sobrecarga”, orienta Fernanda Schröder, do Ibmec. Carlos Eduardo, da Exec, sugere ainda que o colaborador apresente propostas de solução para resolver o problema. “Todo chefe prefere receber uma sugestão de solução a ouvir uma reclamação.”

6 – Devo comunicar ao meu atual chefe que recebi convite para uma entrevista de emprego?

Não existe certo e errado, tudo depende do ambiente de trabalho, das relações e do contexto. Mas, a princípio, o profissional não deve falar nada. “Toda pessoa tem direito de participar de uma entrevista de emprego. E ela é só o primeiro passo dentro de um processo seletivo, que tem várias etapas”, diz Taíssa Mariotti. “Trata-se de um assunto exclusivamente pessoal. O fato de um funcionário participar de uma entrevista de emprego não significa que ele está traindo a empresa onde trabalha”, pondera Carlos Eduardo. Para ele, caso esse fato seja comunicado ao gestor, pode ser que surja uma instabilidade no atual emprego. “O chefe pode entender que a pessoa está desmotivada, insatisfeita. Pode entender que falta comprometimento no caso de uma possível promoção.”

7 – Percebi que uma colega está sendo assediada. Como devo proceder?

Qualquer tipo de assédio, seja moral, sexual, religioso, deve ser denunciado pelos meios estabelecidos pela empresa – pode ser via RH,  por canais eletrônicos, ou diretamente com o gestor. O ideal é percorrer os meios legais estabelecidos pela empresa para fazer a denúncia. Para Carlos Eduardo, da Exec, o primeiro passo é procurar a vítima e estimulá-la a fazer ela mesma a denúncia para evitar situações de conflitos éticos. Fernanda Schröder também recomenda que a própria vítima faça a denúncia. “É preciso evitar prejulgamentos.”

8 – Já tenho um tempo de empresa. Devo me candidatar a programas de trainee?

Em geral, os programas de treinamento são limitados a profissionais com, no máximo, dois anos de formado. Caso queira participar de um processo do tipo, é preciso avaliar onde pretende chegar com o programa de treinamento e onde está hoje. “Eu já tenho emprego e um pouco de experiência. O que um programa de trainee pode agregar à minha carreira? Se a pessoa elencar vários pontos, com certeza vale a pena se candidatar”, avalia Taíssa Mariotti, do Instituto Orienta.

9 – Já domino o inglês. Para uma terceira língua é melhor priorizar o espanhol ou outro idioma menos comum, como o mandarim?

Sem dúvida nenhuma, o inglês deve ser a primeira língua em que um profissional deve investir. Aprender uma terceira língua depende do cenário em que o profissional está inserido. Para Carlos Eduardo, se a pessoa trabalha em uma multinacional francesa, por exemplo, e tem planos de permanecer na empresa por longo prazo, vale a pena investir no francês como terceira língua. O mesmo se estiver em uma empresa italiana, alemã etc. Mas, se a pessoa tiver que escolher uma língua por importância, o espanhol seria a mais indicada. “Num outro momento, a muito longo prazo, talvez investir no mandariam seja uma boa alternativa. Mas trata-se de um idioma muito complexo e, na maioria das multinacionais, o inglês é aceito como língua universal”, avalia.

10 – Estou insatisfeito no trabalho. Qual o primeiro passo para mudar de carreira?

O primeiro passo é descobrir se a insatisfação é com a empresa, com o emprego ou com a carreira escolhida. É preciso definir o que não quer mais e o que busca para se sentir satisfeito. A partir de então, após entender as razões, é preciso adequar o currículo à vaga que considera ideal, fazer cursos de atualização e capacitação e planejar de que forma será feita essa transição. “Muitas vezes, mudar para um emprego com mais qualidade de vida, por exemplo, significa reduzir a remuneração. É preciso ter planejamento”, orienta Fernanda Schröder.

11 – Depois de quanto tempo sem aumento de salário isso significa que estou estagnado na empresa?

Não existe uma regra específica para isso. Observar a questão do salário sozinha, sem avaliar o contexto do mercado e da carreira, é muito relativo. Para Carlos Eduardo, da Exec, tudo depende de como está o mercado de trabalho, da experiência daquele profissional e do estágio em que ele se encontra na carreira. Uma sugestão é saber se a empresa possui planos de carreira com pré-requisitos para promoções ou aumentos de salário por mérito. Também é preciso ficar atento às avaliações de desempenho feitas pela empresa nos últimos meses. “Muitos fatores influenciam, mas, sendo bem generalista, se um bom profissional ficar mais do que três anos sem ter um aumento, pode considerar que está com a carreira estagnada”, avalia Carlos Eduardo, da Exec.

12 – Quais os sinais de que posso estar prestes a ser demitido?

Em linhas gerais, a pessoa deve observar o movimento da empresa: se está passando por uma crise, por uma reestruturação, por situações normais no mercado de trabalho. Nesse caso, uma suposta demissão seria por razões não profissionais. Caso contrário, o próprio colaborador consegue perceber os sinais, que começam com avaliações ruins de desempenho e com entregas comprometidas, atrasadas ou com problemas. “Caso o profissional perceba que não tem sido chamado para os novos projetos da empresa, pode acender o sinal amarelo que tem algo errado”, orienta a psicóloga Taíssa Mariotti.

13 – Fui demitido. E agora? Quais os próximos passos para a recolocação?

O primeiro passo é entender a razão da demissão: foi movimento natural do mercado? Foi falta de comprometimento do profissional? Foi falta de qualificação para a vaga? Definido isso, o profissional deve adequar o seu perfil no Linkedin, atualizar o currículo destacando as competências e o que procura, buscar uma rede de networking para estabelecer contatos e se atualizar.

14 – Sou ansioso e desorganizado. Como evitar que isso atrapalhe minhas tarefas?

É preciso saber lidar com a ansiedade e, para isso, existem cursos para desenvolvimento da inteligência emocional e autoconhecimento. Fazer perguntas como: “por que não sou pontual?”, “por que não consigo entregar meu trabalho no prazo?”, “quais os impactos disso na minha carreira?” ajudam a definir a origem do problema. “É preciso desenvolver técnicas de trabalho, por meio de orientações de coaching, para evitar que isso atrapalhe no dia a dia”, sugere Anna Cherubina, da FGV.

15 – Posso recusar uma transferência na empresa?

Depende. Em geral, quando surge um pedido de transferência significa que a empresa está confiando no trabalho do profissional. Caso haja uma recusa, a empresa pode entender que a pessoa não quer sair da zona de conforto, que não quer desafios e, por isso, ela pode ser colocada “na geladeira”. Além disso, muitas empresas costumam perguntar ao colaborador ainda no processo de seleção se ele tem disponibilidade para viagens ou mudanças. Então é preciso estar atento. “Uma das sugestões é negociar com o chefe um período determinado de transferência, por exemplo, por dois anos. Recusar pode não ser um bom caminho”, avalia Anna Cherubina.

16 – Como lidar com as redes sociais? Posso perder meu emprego ou uma boa vaga se falar de política no meu perfil social, por exemplo?

A pessoa pode tudo nas redes sociais, mas elas são meios de observação e podem, sim, atrapalhar uma contratação ou provocar uma demissão. Muitas empresas não gostam de contratar militantes partidários. Se a empresa achou o profissional por meio de uma rede social (Linkedin, por exemplo), é natural que ela busque informações em outros canais também. “Qualquer pessoa pode perder uma vaga de acordo com o que publica no Facebook. Assim, é melhor evitar expor opiniões que gerem discussões”, orienta Anna Cherubina.

17 – Meu chefe me ofereceu uma vaga no exterior, mas em um cargo inferior ao que eu exerço atualmente. Vale a pena aceitar?

Sim, sempre vale a pena a experiência de morar e trabalhar no exterior. Isso vai agregar ao currículo a experiência profissional, o contato com outro idioma, a questão de conviver com outra cultura. “Esses benefícios são impagáveis. Essa é uma oportunidade de crescer como um todo”, diz Anna Cherubina, da FGV. Além disso, receber esse tipo de proposta é incomum e a experiência internacional só agrega valor ao currículo. “Eu, como recrutador, com certeza valorizo o profissional que traz isso no currículo”, afirmou Carlos Eduardo, da Exec.

18 – Tive uma ideia de projeto para a empresa mas, em geral, tudo esbarra no meu chefe. Vale a pena pular a hierarquia para mostrar o meu projeto ou isso pode gerar um mal-estar?

Jamais um profissional deve desrespeitar a hierarquia de uma empresa. Isso pode ser visto como uma atitude antiética, antiprofissional e de insubordinação. Sempre a melhor alternativa é procurar primeiro o gestor imediato. Uma outra sugestão, mais informal, seria comentar sobre a existência dessa ideia em uma situação em que o gestor e o chefe dele estejam juntos. “Pular a hierarquia com certeza vai gerar um mal-estar desnecessário. Procure criar uma boa relação com o seu gestor e com o chefe dele, assim o projeto pode ser apresentado sem problemas”, orienta Carlos Eduardo, da Exec.

19 – Posso recusar o convite do meu chefe para uma happy hour?

Sim, e isso deve ser feito da maneira mais natural possível, sem nenhum constrangimento. Explicar que tem um compromisso, por exemplo, é uma boa alternativa. Vale lembrar que nem sempre um convite para happy hour significa algum tipo de assédio. Pode ser apenas um momento de descontração entre colegas de trabalho.

20 – Meu chefe me propôs um novo cargo, mas não me sinto preparado. Devo dizer isso a ele ou aceitar o desafio?

O ideal é que o profissional não recuse a oferta. Se a empresa está propondo um novo cargo é porque acredita no potencial do profissional. Se a pessoa recusar, pode demonstrar insegurança. Caso realmente não se sinta preparado para o cargo, converse com o gestor, diga que aceita o desafio e peça um tempo para se preparar para a nova função. “Minha orientação é: assuma o desafio e corra atrás de se atualizar”, diz Anna Cherubina. Para ela, o único caso de recusar a nova função seria se a oferta fosse em uma área de que a pessoa realmente não gosta. “Se isso acontecer, a médio prazo a pessoa tende a se frustrar.”

21 – Sou mulher e pretendo ter filhos, mas gravidez é um tabu na empresa. Devo comunicar ao meu chefe quando quiser engravidar?

Não, de jeito nenhum. A decisão de ter um filho é uma decisão exclusivamente da mulher, de caráter pessoal. Ela não tem obrigação nenhuma de comunicar a empresa de que está tentando engravidar. Gravidez não é doença e o fato de ela ter um filho não significa que ela vai abandonar o emprego. “Pela minha experiência em recrutamento, essa é uma questão cada vez mais secundária, mas ainda acontece em algumas empresas. Assim, tendo tomado a decisão de engravidar, não precisa comunicar ninguém. Isso só deve ser feito quando a mulher já estiver grávida”, afirmou Carlos Eduardo. “Essa é uma escolha pessoal da mulher e toda empresa sabe que corre esse risco ao contratar uma mulher”, finaliza a psicóloga Taíssa Mariotti.

Fonte: VEJA