Aplicativo, que só vai funcionar no país até 14 de junho, atribui saída à crise econômica do país
SÃO PAULO — O aplicativo de mobilidade Cabify, concorrente do Uber e da 99, anunciou nesta sexta-feira que vai deixar de operar no Brasil a partir de 14 de junho. A empresa de origem espanhola atribui sua saída à crise econômica provocada pela pandemia de coronavírus.
“Com tristeza comunicamos que este será o último mês que nos moveremos pelas cidades do Brasil. A partir do dia 14 de junho deixaremos de transportá-los de Cabify”, disse a empresa em um post nas suas redes sociais.
O Cabify pertence à espanhola Maxi Mobility, e no Brasil adquiriu a plataforma Easy Taxi em 2017. O aplicativo Cabify opera atualmente em 11 países. No Brasil, atendia às cidades de Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo.
No Brasil, o Cabify enfrentava dificuldades há anos em obter adesão de usuários e de motoristas, em parte porque suas tarifas eram, na maioria dos casos, superiores às cobradas pelos concorrentes mais famosos, como Uber e 99. Dos motoristas, o aplicativo também exigia carros mais novos do que as demais plataformas de mobilidade.
“O mercado brasileiro ainda é muito afetado pela grave situação sanitária do país e pela crise sócio-econômica local causada pela Covid. Este contexto dificulta a criação de valor e tem levado a empresa a parar sua operação no Brasil”, disse a Cabify em nota.
A multinacional também comparou o nível de recuperação da operação brasileira com o de outros países em que opera. O aplicativo vai manter suas operações em Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, México, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai.
“Todas as cidades da América Latina e da Espanha onde Cabify está presente mostram bons índices de recuperação em comparação com o nível de atividade anterior à pandemia e, em média, a demanda global de viagens da Cabify se recuperou em 75% até o final de 2020. Além disso, em alguns mercados, 100% da demanda foi reativada durante os primeiros meses de 2021”, diz a nota do Cabify.
Na manhã desta sexta-feira, motoristas e alguns usuários do aplicativo receberam emails da empresa sobre o fim da operação brasileira. No texto, porém, o Cabify não explica os motivos da decisão.
“Deixaremos de operar no Brasil a partir de 14 de junho. É com tristeza que lhe dizemos isto depois de termos percorrido tantos quilômetros juntos. Entretanto, todos os motoristas podem continuar a trabalhar e obter renda até a data de fechamento”, diz a mensagem recebida por motoristas do app.
Para Pedro de Paula, advogado e professor da FGV, é provável que o Cabify já estivesse tendo problemas para competir com os concorrentes antes mesmo da pandemia.
— É bem claro que eles eram um competidor pequeno no Brasil, bem atrás de Uber e 99. Isso é normal que aconteça no mercado de plataformas se não houver uma regulação que estimule a concorrência — diz.
Em economias de rede, há tendência à formação de oligopólios, de acordo com o especialista em economia do compartilhamento.
— É bom usar Uber porque o morotista chega rápido, e isso ocorre porque tem muito motorista na plataforma. E tem muitos motoristas porque tem muito passageiro. Em geral, esse tipo de mercado tem uma empresa dominante e um concorrente menor — afirma de Paula.
O modelo de negócio do Cabify, que operava em um nicho com carros mais espaçosos e tarifas mais caras, tem dificuldades pra sobreviver em escalas de rede, de acordo com ele.
— Se o modelo funciona só como nicho, tem problemas porque uma plataforma dominante pode oferecer nichos, como o Uber faz com o Black, por exemplo. Certamente, a demanda do Cabify com a pandemia se reduziu muito, o que deve ter gerado desgaste significativo, mas eles já não estavam bem antes — ressalta.
Para o advogado Rafael Dias, do escritório J. Amaral, a redução da competitividade no setor pode ter como efeito uma subida nos preços das corridas ou uma piora nas condições de trabalho dos motoristas cadastrados nas plataformas hoje dominantes.
Mesmo com sua saída do Brasil, o Cabify ainda terá de responder, em São Paulo, às investigações iniciadas pela CPI dos Aplicativos de Mobilidade, instalada pela Câmara Municipal paulistana em março. A comissão quer investigar como são contratos das empresas por aplicativo que atuam na capital paulista, o recolhimento de impostos para o município e a avaliação da situação trabalhista dos motoristas. O vereador Adilson Amadeu (DEM) preside a CPI.