Há mais de um ano, a designer gráfica Carolina Cardinali, 34, passou a ganhar mais de três horas do seu dia ao adotar o home office (trabalho em casa). A mudança, conta ela, foi benéfica também para a empresa na qual é contratada com carteira assinada: com a prática, sua produtividade aumentou, já que os atrasos provocados por engarrafamentos no seu trajeto deixaram de ser rotina. Assim como a empresa de Carolina, muitas outras estão abraçando essa ideia para cortar custos, como o de transporte, e aumentar a produtividade de funcionários.

Dados preliminares de pesquisa feita em 2015 pela SAP Consultores Associados, e obtidos pelo DIA, mostram que, de 2014 para 2015, houve aumento de 50% do número de empresas que estão implantando a prática. O relatório final será divulgado nos próximos dias. Na amostra de 2014, de 221 empresas entrevistadas, 36% já tinham aderido a esse modelo.

“Trabalho há 10 anos nessa agência, que fica na Barra da Tijuca. Moro no Grajaú e, nos últimos anos, o engarrafamento para chegar lá piorou. Passava pelo menos três horas do dia no trânsito. Comecei a chegar atrasada e decidimos adotar o home office. No início, eram só dois dias. Deu certo e adotamos o modelo de vez”, relata ela, que é casada e tem uma filha de cinco anos. “Me comunico com minha chefe por Skype ou WhatsApp ao longo do dia”, acrescenta.

O maior desafio nesse trabalho, opina a designer, é manter a disciplina. “Tem que estabelecer regras. Reservar um espaço em casa para o trabalho e não confundir os horários com o de afazeres domésticos. O único ponto negativo é a falta de contato com as pessoas”, opina Carolina, que continua recebendo benefícios, como plano de saúde.

A prática tem sido adotada até mesmo por órgãos públicos, como o Tribunal de Contas da União (TCU). O Supremo Tribunal Federal (STF) está em fase de estudo para a sua adoção.
Para caracterizar o home office, regulado como modalidade de teletrabalho, é preciso existir um local para sua realização, periodicidade e emprego de tecnologia, ressalta o consultor da SAP Consultoria, Armando Zanolini Netto.

Responsável pela pesquisa, que começou em 2014, Netto afirma que o home office é uma tendência no país. “O crescimento de 50% de empresas que estão implementando a prática mostra isso”, avalia Netto, que aponta a flexibilização da jornada de trabalho como um dos fatores para esse movimento.

“As empresas têm percebido a importância do ambiente favorável ao trabalhador, aumentando a produtividade. Outros pontos são a otimização do tempo e a política de redução de custos de empresas nesse período econômico”, completa Netto, referindo-se à crise da Economia do país.

O administrador Antônio Lopes, 38, faz o seu horário no home office e não quer mais trabalhar fora de casa. “O importante não é passar horas dentro de um escritório e sim a produção. Estabeleço metas de resultado e as cumpro”, diz.

Profissões que dependem do uso de tecnologia levam vantagem

Presidente da Associação Brasileira dos Profissionais de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ), Paulo Sardinha diz que não há restrição de profissões para a adoção do home office. No entanto, as funções que dependem mais do uso de computador e internet levam vantagem.

“Profissionais de TI, design, e até mesmo outras, como contador e advogado têm essa facilidade. Só não é possível para atividades industriais”, destaca Sardinha.

O especialista destaca algumas ações para manter a produtividade no trabalho de casa. “A pessoa tem que ter a mesma disciplina que teria na empresa. Definir rotinas de maneira clara. Não pode fazer uma coisa a cada dia. Tem que trabalhar no horário correspondente ao da companhia e criar um ambiente propício em casa, com condições de conforto, segurança e luminosidade adequada”, recomenda.

Outro aspecto levantado pelo especialista são as garantias do trabalhador. “A empresa tem que ter uma política clara, que permita que todo funcionário que trabalhe em casa tenha as mesmas condições dos demais”, alerta ele.

Advogado e presidente da comissão da Justiça do Trabalho da OAB-RJ, Marcus Cordeiro ressalta que a legislação determina a existência da relação de emprego também nesta modalidade. “Ou seja, tem que ser um trabalho subordinado, mediante salário e para um empregador”.

Segundo Marcus, o home office pode significar redução de custos para empresa na questão de gasto com mobilidade. “Se não há deslocamento, não há obrigação de pagar vale-transporte”.

No entanto, todos os gastos a mais de quem está no home office é “ônus da empresa”. “Isso tem que ser acordado com o empregador. Mas se gera custo a mais de luz em casa, a empresa deve pagar o trabalhador, que deverá pedir por isso”, orienta.

Fonte: O Dia – IG Economia