A sede do Google em Zurique tem uma sala de massagem, aquário e um escorregador para levar os funcionários de forma rápida e suave para o refeitório.

O escritório da Deloitte em Amsterdã foi projetado com uma sala vazia em cada andar para que os funcionários coloquem o que quiserem nelas – a maioria optou por jogos como mesas de pingue-pongue.

Na sede do LinkedIn na Califórnia, há uma sala de música com teclados, bateria, guitarra e equipamento de áudio.

E cada vez mais empresas deixam funcionários levarem seus pets para o trabalho.

Mas quando foi que as empresas se transformaram em playgrounds? E isso significa uma nova forma de trabalhar?

Graças a avanços tecnológicos, vários empregados podem trabalhar de casa, de cafeterias ou algum lugar exótico. Por isso, algumas empresas estão se esforçando para tornar o escritório lugares mais atraentes.

Um relatório recente da gigante de software americana Citrix prevê que, em 2017, cerca de 50% dos negócios terá uma política de ‘trabalho à distância’ e, até 2020, 70% das pessoas trabalhará tanto tempo no escritório quanto fora dele.

“Escritórios são caros e esses espaços vão diminuir”, diz a vice-presidente da Citrix, Jacqueline de Rojas.

Isso é parcialmente porque chefes perceberam que nem todas as tarefas precisam ser feitas do escritório, mas também porque os funcionários estão cada vez mais exigindo um equilíbrio maior entre emprego e vida pessoal, diz ela.

Mas isso não significa que os escritórios vão parar de existir.

“Escritórios irão virar espaços de colaboração e conexão porque, culturalmente, precisamos de pontos de contatos, já que somos animais”, afirma ela.

‘Super-mesa’
A Citrix instalou “bancos de gênios” em sua sede de Londres. São, na prática, bancadas coletivas mais altas e longas que têm bancos em vez de cadeiras.

Também há mesas móveis, como as que a fabricante de fones de ouvido Skullcandy tem em seu escritório de Zurique. As mesas podem sem configuradas para trabalhar individualmente ou de forma coletiva, se encaixando como peças de um quebra-cabeça.

Enquanto isso, a empresa de marketing Barbarian Group criou uma “supermesa” em seu escritório de Nova York na qual podem se sentar até 170 pessoas, e inclui espaços onde os funcionários podem ter conversas privadas.

E a Lego levou o esquema de “hot-desk” – em que alguns funcionários não têm a sua mesa específica, mas sentam-se no local disponível naquele momento, otimizando o espaço – a um outro nível nos escritórios de Londres e Cingapura.

Eles passaram a adotar um sistema chamado “activity-based working”, em que ninguém tem mesa fixa.

O espaço é dividido em zonas de trabalho flexíveis sem locais de trabalho fixo e sem salas – nem para os chefes. Funcionários que deixam seu local de trabalho por mais de 1,5 hora precisam levar todas as suas coisas com elas, sem deixar nada na mesa.

A Lego tem até um departamento para “novas formas de trabalhar” e, segundo a diretora-sênior Sophie Patrikios, o experimento está indo bem.

“Em nossas pesquisa de maio de 2016, 88% dos empregados disseram que gostam de poder escolher onde trabalhar. Eles têm diversas opções para se adequar a sua atividade ou humor, incluindo uma biblioteca calma, uma área social movimentada com música, poltronas confortáveis e cantinhos aconchegantes ou grandes bancadas para dividir com a equipe”, explica ela.

Os escritórios também estão ficando mais inteligentes. A empresa de pesquisa Gertner diz que prédios comerciais já estão na vanguarda da revolução da “internet das coisas” (que deve conectar aparelhos eletrônicos do dia a dia, como eletrodomésticos, à internet).

Iluminação inteligente, aquecimento e até sensores para determinar quantas pessoas estão no escritório já estão virando lugar-comum.

Escritórios mais saudáveis
Esta tecnologia tem um papel essencial em fazer prédios funcionarem de forma mais eficiente, mas também levanta questões sobre privacidade dos empregados e o que acontece com os dados que são recolhidos.

Mas Theo Maessen, sócio-sênior na empresa de design de prédios holandesa BOB (Best Office Bulding), diz que prédios eficientes no uso de energia podem oferecer benefícios aos funcionários também.

“Estamos construindo escritórios mais saudáveis que usam mais luz natural, têm sistemas que mantém uma temperatura constante que acaba com mofo e poeira, e com isso reduz a taxa de doenças entre os funcionários”, diz ele à BBC.

Usando simulações computadorizadas, Maessen pode definir o número ideal de janelas para um prédio – não mais de 40% dele deve ser de vidro, aparentemente -, assim como fatores como a circulação de ar ideal.

Os prédios projetados por ele não têm ar-condicionado. Em vez disso, usam um sistema geotérmico que aproveita as temperaturas constantes do subsolo.

Água quente circula no inverno e mais gelada no verão.

A empresa usa tijolos de fibra de madeira, que “respiram” melhor e que são feitos de produtos de reciclagem de madeireiras, que, por isso, são mais ecologicamente corretos que tijolos tradicionais.

Os ocupantes dos prédios projetados por ele podem usar uma ferramenta online para dar feedback sobre seu bem-estar e fazer reclamações. O feedback positivo tem sido “muito alto”, diz Maessen.

Segundo ele, o sistema de “hot-desking” vai virar padrão e os prédios terão que se adaptar a usos diferentes.

“Por várias décadas, a ocupação vai mudar. O que foi um escritório pode virar apartamentos residenciais ou lojas. Os clientes também vão querer testar diferentes configurações em seus interiores”, diz.

“Em 20 anos, talvez a gente não trabalhe mais cinco dias na semana, pode ser que trabalhemos três, e temos que tentar projetar um prédio que possa acomodar essas mudanças.”

No futuro, escritórios também ficarão mais perto dos locais em que as pessoas moram, diz.

E comunidades terão espaços comuns que poderão ser usados por qualquer um, ele prevê, reduzindo a necessidade de locomoção.

Patrikios, da Lego, também acho que grandes mudanças estão chegando.

“Já vimos que o trabalho não é mais um lugar para ir, mas algo que você faz”, ela diz.

Uma mudança maior em direção ao trabalho flexível e com as pessoas tendo diversos empregos em meio período pode exacerbar esta mudança.

No futuro, “ir para o escritório” vai significar muito mais que “ir para o trabalho”.